Numa semana em que o quotidiano nos chama, como sociedade de uma insensatez inimaginável, assistimos à morte solitária, trágica de pessoas que depois de terem contribuído uma vida, são esquecidos. Ninguém parece se lembrar que ali estão, pertencendo a qualquer família. Afinal de que País vêm os que vivem sozinhos, sem dignidade na hora do sono mais longo. Uma música de Brel sobre essa nossa incapacidade que permanece e ao qual o progresso tecnológico parece indiferente.
No dia do lançamento da 1ª pedra da Barragem do Tua, o governo na sua máxima expressão celebra a coragem do feito, a que nenhum mortal tinha ainda ousado e que só ele governo no cumprimento estrito do grande valor pátrio conseguiu conceber. Só podemos estar satisfeitos, pois o progresso tecnológico e energético fará sair-nos desta crise incompreensível.
Afinal não sabe a EDP publicitar a sua capacidade de concretizar a biodiversidade, quando se destroem habitats, espécies vegetais e animais. As medidas compensatórias não serão aplicadas no território destruído. A própria capacidade de produção de energia eléctrica é de valor muito limitado, em valores globais. O caminho, aquele que nos têm feito tão prósperos é esta uniformização por um modelo económico que tanto dá a poucos e tanto tira a tantos.
Nada preocupante. Afinal é só um território, uma cultura, uma história. Mas em Lisboa, não conhecem o perfume dos lírios do campo, não sabem o valor do vento nas amoras, entre as caminhadas de pó e de luz. Os museus naturais não têm lugar nos gabinetes dos decisores fechados em gabinetes, onde o arco-íris é uma arqueologia, uma teimosia incompreensível.
Para relembrar a coerência com que este "País" tem tratado esse território único, o filme de Jorge Pelicano e um site que revela aos ignorantes pela memória e cultura de um território, a sua beleza que agora se inicia a sua destruição, sistemática e corajosa. Eis algo que nos devia indignar.
"É para todos os dias que precisas de educar e afinar a alma; é para te sentires o mesmo em todos os minutos que deves dominar os impulsos e ser obstinadamente calmo ante as dificuldades e os perigos, as alegrias e os triunfos.”(…)”O que a vida apresenta de pior não é a violenta catástrofe, mas a monotomia dos momentos semelhantes; numa ou se morre ou se vence, na outra verás que maior número nem venceu nem morreu: flutua sem morte nem esperança. Não te deixes derrubar pela insignificância dos pequenos movimentos e serás homem para os grandes; se jamais te faltar coragem para afrontar os dias em que nada se passa, poderás sem receio esperar os tempos em que o mundo se vira." (1)
(Nos cento e cinco anos do nascimento de um homem que o País raramente compreendeu e que nos deu uma universalidade onde a luz das ideias, o conhecimento como iluminação poucas vezes foi tão intenso. Chama-se Agostinho da Silva, nasceu no Porto, espalhou a sua luz fundadora de ideias em vastos continentes e foi uma das figuras do século XX. Percebeu o mundo que emergiu das crises sociais e deu-nos o exemplo da coragem e do exercício da liberdade.)
(1) Agostinho da Silva, Ir à Índia sem abandonar Portugal e outros textos
(No nascimento de Charles Darwin, uma apresentação que nos traz a lembrança do autor da teoria da evolução, numa exposição a decorrer no Jardim Botânico do Porto. A conferir aqui.
(Há momentos fascinantes. Uma multidão reunida, com jovens, homens, crianças, mulheres, novos e anciãos em grito contra o fim da autocracia e por uma esperança nova. Uma multidão informou pela palavra, pelo gesto destemido que o Faraó ocupava ilegalmente o palácio e que o Povo não lhe reconhecia a soberania. Esta noite o faraó saiu e o que o povo do Egipto conseguiu foi extraordinário. A confirmação das esperanças é sempre um grande feito. O futuro é uma interrogação. Por hoje há que celebrar a coragem por uma soberania nova.)
"Os livros avançam pela casa, silenciosos, inocentes. Não consigo detê-los. (...)
Mas como desfazer-me, por exemplo, de O Apelo da Selva, sem apagar um dos poucos marcos da minha infância, ou de Zorba, o Grego, que com um pranto selou a minha adolescência, de a 25ª Hora, e de tantos outros há anos relegados para as prateleiras mais altas, íntegros, no entanto, e mudos, na sagrada fidelidade que nos adjudicamos. Amiúde é mais difícil desfazermo-nos de um livro do que obtê-lo. Ligam-se a nós num pacto de necessidade e de esquecimento, como se fossem testemunhas de um momento das nossas vidas ao qual não regressaremos. Mas enquanto aí permanecerem, presumimos tê-los juntado.(...)
Confesso-lhe que algumas reflexões me tentaram, mas um leitor é um viajante através de uma paisagem que se foi fazendo. E é infinita. A árvore foi escrita, e a pedra, e o vento na ramaria, a saudade dessas ramagens e o amor ao qual emprestou a sua sombra. E não encontro melhor sina que percorrer, em poucas horas diárias, um tempo humano que, de outro modo, me seria alheio. Não chega uma vida para percorrê-lo. Roubo a Borges metade de uma frase: uma biblioteca é uma porta no tempo."
Carlos María Domínguez, A Casa de Papel,Edições Asa
A oito de Fevereiro de cada ano comemora-se o Dia Europeu da Internet Segura que se enquadra numa semana de destaque da segurança a ter na utilização da Internet.
Hoje, o mundo onde vivemos, o acesso à informação, a ideia que temos do mundo e os espaços de socialização são influenciadas em grande escala pela internet e os seus recursos digitais. Não é excessivo dizer que existem novas formas para aprender, conviver e comunicar.
Existe uma necessidade de primeira grandeza em utilizar criteriosamente os media e nesse sentido a internet, de modo a que cada um possa exercer a cidadania, nem afastado deste mundo digital, nem subjugado pelas suas ligações e pelos reais perigos que pode ter. Os riscos que têm que ver com a utilização do computador (segurança da informação) e com os conteúdos (segurança das pessoas).
A Seguranet (existe um link directo no blogroll do blogue) tem um conjunto de materiais e ferramentas para educadores, professores e alunos. Não só hoje, mas em qualquer momento é uma página a visitar. Destacamos dois recursos:
Sem dúvida que já foi há tanto tempo. Quando descíamos a montanha à sombra de todas as esperanças, na confiança de que entre os castanheiros e os abetos, a alegria dos sorrisos nos dariam um infindável "heart of gold".
I've been to Hollywood I've been to Redwood I crossed the ocean for a heart of gold I've been in my mind, it's such a fine line That keeps me searching for a heart of gold And I'm getting old. Keeps me searching for a heart of gold And I'm getting old.
(Há já quarenta anos que Neil Young nos encanta à procura do seu e nosso heart of gold)
(Ao contrário de toda a realidade, o incrível aconteceu. No Egipto dos Faraós, um povo grita de uma forma insistente pela liberdade. As certezas que em tantas imagens descrevem o poder de uma minoria nas sociedades islâmicas parecem ser de outro tempo. Há um sopro de coragem em mudar, em lutar pela dignidade humana. O espírito humano dá-nos uma demonstração de como a luta contra a injustiça, a superação do medo será sempre a melhor forma de construir novos horizontes.)
"Não: plantai batatas, ó geração de vapor e de pó de pedra, macadamizai estradas, fazeis caminhos de ferro, construí passarolas de Ícaro, para andar a qual mais depressa, estas horas contadas de uma vida toda material, maçuda e grossa como tendes feito esta que Deus nos deu tão diferente do que a que hoje vivemos. Andai, ganha-pães, andai; reduzi tudo a cifras, todas as considerações deste mundo a equações de interesse corporal, comprai, vendei, agiotai. No fim de tudo isto, o que lucrou a espécie humana?"
(Nas viagens por um Ribatejo, onde o imobilismo social anunciava solidamente as dificuldades da sociedade liberal em se afirmar nos seus princípios mais nobres.)
É certamente uma das memórias mais lamentáveis da nossa história contemporânea. A que ditou o início do fim de um regime sombrio, onde uma geração foi sacrificada inutilmente à vontade de um homem que decidia o que um País inteiro deveria pensar e viver. É uma memória ainda pouco discutida e reflectida cara a cara com o quotidiano, por onde poderemos afirmar o que afinal somos, entre a mágoa e o futuro do que soubermos ser.