domingo, 14 de março de 2010

Leituras... Entrevista a Einstein



« (...) Durante muito tempo, pensámos em linhas rectas, pelo menos esforçámo-nos por isso, em termos de rectidão e de clareza, com a ajuda daquilo a que chamávamos a lógica, a razão, ou ainda a geometria; no nosso pensamento rectilíneo, esforçávamo-nos por ir de um ponto ao outro, o mais rapidamente, o mais simplesmente possível, o nosso pensamento evoluía em triângulos, quadrados, rectângulos e subitamente fomos invadidos pela curva! Pela sinuosidade! (...)

O pensamento é lento e frágil. Não é soberano. Não é a coisa mais bem partilhada do mundo, longe disso. Para uma massa de espíritos receosos, saber é enganar-se, saber é perder-se. Subsiste em todos nós algo de mágico e de feérico. Precisamos de feiticeiros, que nos toquem a flauta imperecível e que se encham à nossa custa. Preferimos a crença ao conhecimento, as patranhas às certezas. É assim. (...)

É fácil de compreender. Veja: o universo é irresistível. Constitui uma autêntica sedução. É belo, se esta palavra ainda tem sentido nestes espaços incomensuráveis. Ele encerra em si toda a beleza. Cruelmente, sempre que o olhamos, reduz-nos sem cessar à nossa insignificância. Esmaga-nos. E, no entanto, ao acolher-nos, amplia-nos, abre-nos os olhos e, mais ainda, o nosso espírito, aceita-nos. Os Antigos diziam: revela-se-nos, mostra-se. Ao contrário de Deus, que põe tanto cuidado em se esconder, ele é um imenso exibicionista.(...)

Esta necessidade de um objectivo, de um desígnio, primeiro passo para a finalidade geral do mundo, aplicámo-la, ao que parece, ao universo, como se tudo tivesse de funcionar num sentido comparável ao nosso. Como se as galáxias e os electrões se deslocassem sobre a nossa atitude e desposassem todos os nossos movimentos interiores. Como se o sentido dominasse a realidade. Como se, nos infinitamente grande e pequeno, tudo obedecesse à vontade de alguém, à maquette de um arquitecto habilmente dissimulado. Como se as estrelas estivessem ali penduradas para responder às nossas velhas perguntas. (...)

Quando um pensamento percorre incessantemente o universo, quando se aventura e se perde em distâncias incomensuráveis, na infinidade dos possíveis, e se volta por um momento a fim de fixar nas minúsculas querelas da Terra, reivindicações de fronteiras, possessões, insultos e ameaças (...) um nacionalismo estreito, mesquinho, que nos deixa paralisados, o que dizer?
Como reagir, no regresso das estrelas?»

(Entrevista a Einstein é um pequeno grande livro que nos dá a hipotética entrevista de um homem que repensou o universo a uma jornalista. Por ele caminhamos pela sabedoria de um homem que redesenhou os conceitos do espaço e do tempo, da matéria e da energia. Uma fonte de informação e de prazer sobre a diversidade de uma das mais importantes figuras do século passado. Um livro a descobrir.)


Jean-Claude Carrière, Entrevista a Einstein, Quetzal

Albert Einstein - Uma Biografia


«Sou como um castelo encantado, onde penetram todos os ventos que passam. Por vezes, sigo o mesmo percurso de pensamento cem vezes por dia. Volto atrás, altero um pormenor, recomeço... É um rascunho que nunca acaba. O mundo é o nosso rascunho.» (1)

Há justamente cento e trinta e um anos nasceu um cientista, um pensador que tentou admirar e compreender o universo, os seus fundamentos usando as nossas humanas capacidades. Com a imaginação, a dúvida e o rigor da linguagem matemática deu-nos uma nova visão do universo. A revista Time considerou-o o homem mais importante do século XX. Justamente, Albert Einstein.

Einstein nasceu em Ulm, na Alemanha a catorze de Março de 1879. Filho de uma família judaica de classe média, o pai era comerciante, fundando com o seu irmão em 1880, em Munique, uma empresa de material eléctrico, a J. Einstein&amp Cie que alcançaria um relativo sucesso nos primeiros anos de difusão da industrialização na zona de Munique. A família sendo judaica não deu ao jovem Einstein uma educação religiosa, na medida em que não seguia os procedimentos rituais dessa cultura. A partir de 1885 Einstein inicia a sua formação numa escola pública de Munique. Aos dez anos a influência de Max Talmud inscreve-o no mundo dos livros, dando-lhe a conhecer Euclides e Kant. O modo racional de obervar o mundo começa a desenhar-se no jovem de Ulm.

A partir de 1895 Einstein parte para Itália, entrando no ano seguinte no Instituto Politécnico de Zurique. Começa a testar as suas ideia em laboratório, dedica-se ao estudo e falta às aulas, o que lhe criará mais tarde algumas inimizades no mundo académico. Irreverente e imaginativo, abdica em 1896 da cidadania alemã, obtendo em 1901 a nacionalidade suiça, que sempre considerou a sua em todas as viagens que fez.

A partir de 1905 Einstein fará parte já da memória científica da humanidade com os seus diferentes estudos que darão uma luz nova aos estudos da física. Do campo fotoeléctrico, à confirmação do movimento dos átomos, ao estudo dos corpos em movimento até à construção da sua famosa equação E = mc2 o contributo de Eisntein para a compreensão do Universo foi imensa.

Na década de vinte inicia-se como professor das Universidades de Praga, Berlim e na Academia Prussiana das Ciências, recebendo em 1921 o Prémio Nobel da Física. A sociedade alemã dos anos vinte vivia no rescaldo do desastre da 1ª Grande Guerra e das condições do tratado de Versalhes. A partir dos anos trinta todo o quadro cultural, social e económico se deterioraria com a ascensão do Nazismo. As fogueiras, a destruição dos locais de cultura, as perseguições dariam o tom negro da falta de racionalidade que em tantos tempos destruiu a humanidade. Einstein compreendeu que tal como o universo, também a estupidez humana é por vezes infinita.

Einstein abandonou a Alemanha em 1940 e tornar-se-ia cidadão americano. Aqui tentou desenvolver as suas ideias relativas aos campos gravitacional e eletromagnético, de modo a criar uma teoria que explicasse como elas se poderiam unir num único campo. A fusão nuclear, aplicada em Hiroshima, momento trágico da memória humana, não foram concebidos por Eisntein, embora os seus estudos sobre a matéria tenham ajudado a essa fatal experimentação. A sua carta a Roosevelt mostra-nos como era sobretudo um pacifista e um homem admirado, seduzido pelo universo e pela vida.

(1) Jean-Claude Carrière, Entrevista a Einstein