quinta-feira, 4 de março de 2010

Leituras... O Meu Primeiro Chopin

Rosa Salvado Mesquita apresenta-nos um livro suave, poético e cadenciado como um dos improvisos de uma obra imortal, a música de Chopin. Ilustrado por Carlos Martins Pereira somos conduzidos pelas etapas da vida de Frédéric Chopin, numa sequência que nos transmite alguns dos valores e da atmosfera que são característicos da sua obra e pessoa.

Pela sua leitura absorvemos as tradições e lendas da Polónia do século XIX, dos seus campos verdes, de uma geografia que ainda vivia nos valores da aristocracia. Passeamos pelos bosques de pinheiros e bétulas de ar puro e tranquilo, onde uma cultura seria posta à prova perante a invasão do czar da Rússia...

Sentimos o coração de pássaro a elevar-se na cidade antiga, nas suas ruas, à procura de novos desafios, como em Paris, onde as teclas inspiradas ressoam as «mazurcas» e as «polonaises», fazendo abrir o seu talento a novos públicos, a corações diversos.

Entre Paris, Nohant e Londres, a simplicidade e a discrição. Mas também a sua respiração cansada, entre o sol e os dias húmidos, onde recria a sua esperança melodiosa, onde igualmente exprime a saudade de Varsóvia.

Com Chopin assistimos à concretização das ideias do romantismo, onde o indivíduo, a sua liberdade e a sua criação se exprimem de forma entusiasmada. A simplicidade e o rigor de uma música que fará do piano uma caixa de sons animados, capaz de nos transportar a um reino de beleza. Com O Meu Primeiro Chopin, os leitores conhecem a vida e os pormenores mais significativos que deram o molde a um dos mais importantes criadores da História da Música.

Uma música que tal como em Mozart nos permita chegar a essa ideia que Cristina Carvalho expõe de forma tão inspirada. Isto é que «ao ouvi-la talvez os homens não morressem, talvez desaparecessem por um longo período, que talvez se transformassem noutros homens; que talvez a noite não descesse tão cruelmente sobre todas as vidas; que talvez esta música proporcionasse algum milagre.» (1)
(1) Cristina Carvalho, Nocturno, pág. 167
Imagens, in Carlos Martins Pereira, O Meu Primeiro Chopin

Alice... em diferentes olhares

Alice no País das Maravilhas é um dos livros mais marcantes da Literatura Infantil. Com ele Lewis Carroll resgatou o tempo mágico, único quando todos nós, ainda como crianças, sem os limites do crescimento e por isso da noção breve da vida, olhamos para o que amamamos com o coração à procura de dias limpos e felizes. A Ilustração é aqui também uma forma de interpretação. Alguns dos muitos exemplos da visão que cada um tem desse território único, O País das Maravilhas.

(Charles Folkard, 1929)

(Abelardo Morell, 1999)

(Edwin John Prittie, 1923)
(Nicoletta Costa, 2008)

(Imagens, daqui)

Leituras... Alice no País das Maravilhas


«Mas quando ela desapareceu, a irmã deixou-se ficar ali sentada, tranquilamente, de cabeça apoiada na mão, olhando o sol-poente e pensando na pequena Alice e em todas as suas aventuras maravilhosas, até que começou também a sonhar. (...)

Ali ficou sentada, de olhos fechados. Quase acreditou no País das Maravilhas, embora soubesse que, quando voltasse a abri-los, tudo regressaria à enfadonha realidade... Apenas o vento faria sussurrar a erva, e as águas do lago agitar-se-iam com o balouçar dos juncos... O tilintar das chávenas transformar-se-ia no tinir dos chocalhos, e os gritos estridentes da Rainha na voz do jovem pastor...

E os espirros do bebé, o silvo do Grifo e todos os outros estranhos ruídos dariam lugar (ela sabia-o) ao barulho confuso da azáfama que reinava no pátio da quinta, enquanto os mugidos do gado à distância substituiriam os soluços profundos da Falsa Tartaruga.

Por fim, imaginou como esta sua irmãzinha seria no futuro, quando fosse crescida; e como conservaria, já na idade madura, o coração simples e adorável da sua infância, e reuniria à sua volta outras crianças, cujo olhar se tornaria vivo e curioso ao ouvirem tantas histórias estranhas, talvez mesmo a história do sonho do País das Maravilhas, de há muitos anos; e como ela se sentiria no meio das suas tristezas simples e encontraria prazer nas alegrias igualmente simples, ao recordar-se da sua própria meninice e dos dias felizes de Verão.»

(A chegar aos cinemas, a adaptação de uma das mais importantes obras da literatura infantil. Justamente, Alice no País das Maravilhas é o livro que nos dá o olhar espantado, admirado de uma criança num território novo, deslumbrante, onde o seu coração simples viaja pelo sonho ao encontro de dias felizes).

Lewis Carroll, Alice no País das Maravilhas, págs. 125-126