(Com a memória do Dia do Livro e nas vésperas do que foi uma imensa esperança, um poema de Manuel Alegre relembrando a audácia do que já fomos capazes de sentir).
«É possível falar sem um nó na garganta
É possível amar sem que me venham proibir
É possível correr sem que seja a fugir.
Se tens vontade de cantar não tenhas medo: canta
É possível viver sem que seja de rastos.
Os teus olhos nasceram para olhar os astros
Se te apetece gritar não, grita comigo: não.
É possível viver de outro modo.
É possível transformares em arma a tua mão.
É possível o amor. É possível o pão.
É possível viver de pé.
Não te deixes murchar. Não deixes que te domem.
É possível viver sem fingir que se vive.
É possível ser homem.
É possível ser livre». (1)
(1) Manuel Alegre, O Canto e as Armas
Imagens, Maria Paz Silva/Fernanda Fragateiro