sábado, 24 de abril de 2010

Entre os dias de Abril...

(Com a memória do Dia do Livro e nas vésperas do que foi uma imensa esperança, um poema de Manuel Alegre relembrando a audácia do que já fomos capazes de sentir).

«É possível falar sem um nó na garganta
É possível amar sem que me venham proibir
É possível correr sem que seja a fugir.
Se tens vontade de cantar não tenhas medo: canta

É possível andar sem olhar para o chão
É possível viver sem que seja de rastos.
Os teus olhos nasceram para olhar os astros
Se te apetece gritar não, grita comigo: não.

É possível viver de outro modo.
É possível transformares em arma a tua mão.
É possível o amor. É possível o pão.
É possível viver de pé.

Não te deixes murchar. Não deixes que te domem.
É possível viver sem fingir que se vive.
É possível ser homem.
É possível ser livre». (1)

(1) Manuel Alegre, O Canto e as Armas
Imagens, Maria Paz Silva/Fernanda Fragateiro

Dia Mundial do Livro


«Os livros também respiram,
e o ar que lhes enche as páginas
tem o aroma intenso das viagens
que eles nos convidam a fazer,
sempre à espera que a magia
daquilo que nos contam
possa realmente acontecer.

Os livros são a metade
dos sonhos que tu tens,
são a tua liberdade
e o maior dos teus bens,
porque tendo a tua idade
têm tudo o que tu tens.

Os livros poêm nas capas,
como as pessoas no rosto,
aquilo que nos querem mostrar,
aquilo que dá mais gosto
a quem os vai encontar.
E é assim que atraem
dos leitores a atenção
e lhes prendem o afecto,
que é meio caminho andado
para chegar ao coração.» (1)

(1) José Jorge Letria, Ler Doce Ler, Terramar

Imagens Marylin Monroe, 1955/Verónica Cendoya, poesia/Penelope Dullagham, Shambala
(No Dia Mundial do Livro feito ontem)