«É um leve pó de estrelas surpreendido, uma porção de arco-íris que agarrei» (1)
Há quem julgue ser possível existir um País onde o território, uma imensa parte dele, possa ser esquecido, despovoado, ignorado. Há quem julgue ser possível esquecer que um Território alberga uma História, uma Língua, uma Cultura. Há quem julgue ser possível retirar a uma comunidade os meios de identificação com o seu património.
Há quem julgue ser possível destruir um património geológico com milhões de anos e aprisioná-lo num museu virtual, como se a vida pudesse ser contida em limites tão pobres. Há quem julgue ser possível sacrificar o espaço de vida de uma Cultura aos lucros especulativos de uma minoria, que em monopólio nos revela a sua sapiciência. Há quem julgue ser possível esquecer o brilho da manhã e pensar apenas na superfície de ambições irrelevantes.
Há quem julgue ser possível fechar os espaços de vida, testemunhos de outros tempos, como se fossem dispensáveis. Há quem julgue ser possível encerrar os trilhos da memória, sem os dinamizar, sem os dar a conhecer, sem os querer vivos. Há quem julgue ser possível substituir o vento pelos lucros apressados, na ideia de uma modernidade incompreensível ao coração do homem.
Jorge Pelicano fez um documentário onde se percebe como uma classe política se alimenta de cimento, onde outros, mais sábios apenas queriam respirar as «planícies do campo celeste» (2). Premiado como o melhor documentário no Doc Lisboa em 2009, chega agora aos cinemas e merece ser visto. É a Linha do Tua que infelizmente nos revela a perda de um património e a gula de uns quantos. A nossa verdadeira crise está aqui. A demissão, o esquecimento de culturas, de formas de vida autênticas.
(1), (2) - Henry David Thoreau, Walden
Trailer Cinema "Pare, Escute, Olhe" from Pare, Escute, Olhe on Vimeo.