quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Leituras na Biblioteca

"Era uma vez uma vez uma casa pintada de amarelo com um jardim em volta. No jardim havia tílias, bétulas, um cedro muito antigo, uma cerejeira e dois plátanos. Era debaixo do cedro que Joana brincava. Com musgo e ervas e paus fazia muitas casas pequenas encostadas ao grande tronco escuro. Depois imaginava os anõezinhos que, se existissem, poderiam morar naquelas casas. E fazia uma casa maior e mais complicada para o rei dos anões."


E Joana tinha muita pena de não saber brincar com os outros meninos. Só sabia estar sozinha. Mas um dia encontrou um amigo. Foi numa manhã de Outubro. (...)A luz da manhã rodeava o jardim: tudo estava cheio de paz e de frescura. Às vezes do alto de uma tília caía uma folha amarela que dava voltas no ar. (...) e daí em diante todas as manhãs o rapazinho passava pela rua. Joana esperava-o empoleirada em cima do muro..."

Sophia, A Noite de Natal
Desenhos - 2º D

Carlos Pinto Coelho (in Memorian)

Entre os livros e as actividades de fim de período tem faltado tempo para aqui deixar algumas ideias que os dias têm deixado num clima que não é de grande entusiasmo. O fim do dia foi marcado pelo fim físico de um homem que teve nos media alguma importância. Aquela que o País lhe soube reconhecer e apesar de sermos culturalmente pouco sólidos ele desempenhou um papel que deve ser reconhecido.

Nas alturas de circunstância costuma-se fazer as notas biográficas. Deixemos isso para outros. Era jornalista. Revelava um imenso humanismo nas suas declarações sobre os outros, os livros, as ideias, a arte, a cultura... Teve um programa que deu aos portugueses o contacto com esse mundo que parece cada vez mais raro e distante. Falava dos criadores com paixão, com fascínio pela palavra, pelo traço, pela cor redescoberta.

A sua importância, relativa ao período do Acontece faz-nos reflectir como a evolução do País é uma tragédia, é uma incapacidade de projectar ideias, de criar soluções. Sem cultura não existe massa crítica, não existe qualquer fermento para enquadrar uma organização social que é cada vez mais um apêndice de um poder político que se vê a si próprio como o grande inspirador do pensamento dos outros. A distância que nos separa de um País, é muito esta. A desvinculação às ideias. No dia em que nos despedimos de Carlos Pinto Coelho valia a pena pensar um pouco nisso. É por aqui que se tem construído uma aparência do real com figuras janotas, mas pouco consistentes.