sábado, 9 de outubro de 2010

Entre a Modernidade...

(Na memória de Monsieur Hulot, a figura que Tati conseguiu criar num discurso narrativo a relembrar o cinema de Chaplin. Aqui numa cena de O Meu Tio, onde toda a estética moderna, da década de cinquenta já prefigura a nostalgia dos objectos usados, da tecnologia dominadora, das relações humanas ao encontro de uma simplicidade que se perdeu. Rodado em 1958, é já uma ideia para o sonho perdido que representará as décadas seguintes, onde hoje o conformismo e a tecnologia parece incapaz de restaurar uma ideia de progresso continuado.)

Jacques Tati, Mon Oncle, 1958, in http://www.publico.pt (20.04.2007)

Prémio Nobel da Paz 2010 ... ou «o desafio a Golias»

«Aquele que possui em si a plenitude da virtude é como a criança acabada de nascer». (1)

Nos dias e latitudes de aparente indiferença os Prémios dados pela Academia Nobel parecem muitas vezes uma iniciativa só vagamente interessante. E isso porque as sociedades ocidentais vivem num conformismo apático, indiferentes a uma participação cívica contínua e exigente. Existem, todavia espaços humanos onde qualquer respiração pela dignidade, qualquer reivindicação onde a Liberdade, os Direitos Humanos, a Igualdade perante a Lei, a Democracia como instrumento de princípios constitucionais implicam esforço e sobretudo muita coragem.

Herdeiro das manifestações de Junho de 1989, ma Praça da Paz Celestial (Tiananmen) tem lutado por meios pacíficos para que na China os valores universais sejam respeitados por um País em grande transformação económica. Subscritor da Carta 08, Liu Xiabo foi detido em períodos sucessivos, e encontra-se actualmente condenado a onze anos de prisão, sendo um dos dissidentes que luta por uma relação justa entre a nomenklatura partidária e o povo chinês.

É este antigo professor de literatura que este ano a Academia do Nobel decidiu premiar com o Prémio Nobel da Paz. E é um daqueles acontecimentos que espanta a lentidão dos dias e do conformismo, dos que na Europa se conformam com os trocos da explosão económica Chinesa, à qual tudo é possível aceitar. Nesse sentido, este Prémio Nobel da Paz 2010 é também um sopro corajoso nas adormecidas consciências que no Ocidente são primordiais, quando as compensações económicas são irrelevantes.

(1) Zhu Xiao-Mei, O Rio e o Seu Segredo