Aqueles dias tecidos que tinham um ar de fantasia quando vieram brincar dentro de mim (Sophia)
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
A Personalidade do Ano
A revista Time e os seus leitores escolheram Julien Assenge como a personalidade do ano. Acima das dúvidas que se instalam sobre a sua condenação em actividades da sua vida privada, há neste caso dimensões que importa destacar.
A tecnologia, como suporte de informação evidencia o poder da web em tornar acessível e transparente factos comprovados de acções cometidas por governantes como sendo eticamente inaceitáveis.
Dá-nos a confirmação que o modelo político do Ocidente e as suas instituições estão mergulhadas numa decadência que se justifica e afirma apenas pelo valor estratégico da economia e do serviço que promove a minorias. O serviço à causa pública é no essencial uma miragem. A tecnologia é uma ferramenta, um instrumento que transforma a informação. A tecnologia não encerra apenas formatos, trabalha os símbolos da informação.
As elites, as mais atrapalhadas virão dizer que não é bom critério a transparência. Que a cidadania é um princípio belo, certamente, mas apenas na segurança dos que guardam os palácios e os seus privilégios. Acontece que o fundador da Wikileaks é um símbolo pela força com que demonstra o que os governos ainda não perceberam. Uma ordem mundial satisfatória não é compatível com aparências de verdade.
O Valor das Humanidades
"Tout ceci, je crois, montre bien qu'il y a là quelque chose de profond dans la pensée greque, ou dans l'art grec: ce besoin d'annoncer la fin, de laisser pressentir constamment la fin" (1)
Por estes dias finais deste ano lembramos a memória de quem há horas deixou de nos ensinar de forma tão directa o que foi a aventura grega e o que ela representou para a formação da Humanidade. A originalidade da cultura grega, a explosão do seu pensamento em tantos domínios para a formação de uma educação que destaca o valor da liberdade e do indíviduo foram expressos por Jacqueline Romilly em facetas tão diversas, como a língua, a lenda, a arqueologia dos materiais.
Com ela recordamos esse domínio afastado do estudo nas escolas e universidades, que é o dos Estudos Clássicos, suporte das Humanidades. Vale muito a pena destacar outra professora ilustre, portuguesa, Maria Helena da Rocha Pereira, que na universidade portuguesa deu um grande contributo para este domínio do saber.
No actual quadro de desastre das instituições europeias em que se navega sem valores, importa destacar aos esquecidos que uma sociedade não se constrói apenas pelo valor utilitário mais imediato. Que existe um pensamento, uma capacidade para reflectir valores, para questionar a realidade e ter a possibilidade de criar ideias. Aos que acham a filosofia, o latim, a história, a cultura clássica como banalidades, arquivos longínquos da modernidade, a crise profunda que se vive na Europa e em Portugal é em muito consequência da falta de estudo do que é a memória da civilização europeia.
(1) Jacqueline Romilly Ne me dis pas comment cela finit
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