sexta-feira, 5 de março de 2010

Parabéns ao Público...

«A razão-a razão fria, ponderada, desapaixonada - tem de fornecer todos os materiais necessários à nossa protecção e defesa no futuro. Que esses materiais se moldem de modo a assumir a forma de uma inteligência geral, uma moralidade sólida e, em especial, respeito pela Constituição e pelas leis.» (1)

A sociedade contemporânea abriu aos indivíduos a capacidade de participação e de reconhecimento de direitos essenciais. A Democracia como organização de sociedade só é possível se a razão for alimentada pelo conhecimento, capaz de fazer discernir como a criação de riqueza e a distribuição dos órgãos de poder afirma o destino colectivo de uma Nação. Sem a informação diferenciada, reflectida, desdobrada em ideias não há um espaço público de comunicação. E sem esse instrumento de construção do conhecimento, a Democracia real não existe.

Efectivamente a leitura e a escrita são, como o disse Al Gore «a ginástica da Democracia». Sem essa ferramenta, a razão, fundamento da liberdade individual, estará perigosamente ameaçada pelo medo. Se o domínio da acção pública não é reflectida pela comunidade, os fundamentos de uma sociedade livre desaparecem.

O Jornal Público que hoje faz vinte anos, tem desempenhado com imensa importância o papel de distribuição da informação para o espaço público. Juntando um formato diário com uma reflexão alargada de temas, apoiados em dossiês temáticos de variada importância, o seu papel numa sociedade que deve ser aberta é de grande significado.O Jornal Público tem sido uma companhia na informação e uma aventura frontal e emotiva pelo conhecimento do nosso mundo.

Certamente que em vinte anos os seus conteúdos evoluiram, mas nota-se no Jornal Público uma constante referência pela informação, pela análise da realidade nacional e internacional, mas também por questionar pela palavra escrita os arcaísmos em que tantas vezes o género humano cai, insensível à poeira de que é feito.

(1) Abraham Lincoln, «The Perpetuation of Our Political Institutions»,
citado de Al Gore, O Ataque à Razão

O silêncio...

Uma criança de doze anos morreu. Saiu da escola onde era agredido e decidiu colocar fim ao sofrimento que sentia. Aparentemente ninguém sabia, ninguém viu nada e após umas páginas de um inquérito inconclusivo, porque incapaz de responsabilizar ficamos mudos. A realidade chorará por uns instantes. Alguns dirão que é o espelho de uma sociedade contemporânea, onde episódios infelizes acontecem. Será uma sociedade regulada na decência? Apenas algumas perguntas.

São estes factos isolados de uma ideia de escola, onde os valores de excelência são a reprodução de uma organização de sociedade que desvirtualiza as pessoas? O valor da individualidade pode existir numa inclusão forçada de todos, onde se pratica não a igualdade de oportunidades, mas o igualitarismo? Podem os alunos construir valores numa organização social, que é a Escola, quando os currículos fazem o seu próprio fraccionamento? E que sociedade pode ser construída com um mercado de trabalho com direitos pendentes a um passado que se julgava ultrapassado?

Quando morre uma criança às portas de uma escola, é ela própria e a sociedade que se afirmam incapazes de cumprir a sua função. O silêncio da maioria, é a grande ameaça aos direitos de cada um. Disse-o Martin Luther King. Sem uma consciência de valores, dos deveres de cada organização, poderemos ser uma sociedade viável, de felicidade e conquista do futuro?