Pensada em Sidney em 2007 a Hora do Planeta tornou-se uma medida e uma campanha de sensibilização para com os problemas relacionados com as alterações climáticas e a utilização mais racional das fontes de energia. Durante uma hora, marcada para as vinte e trinta deste dia, vinte e sete de Março, vamos participar nesta ideia de poupar um pouco o futuro de um Planeta indispensável à vida.
Aqueles dias tecidos que tinham um ar de fantasia quando vieram brincar dentro de mim (Sophia)
sábado, 27 de março de 2010
Dia Mundial do Teatro (II)
No Dia Mundial do Teatro não é essencial expôr a essência da arte de representar. Como ela é feita de suor, dádiva, luz a que os fenómenos de mercado não permitem envolver nestes tempos em que parece cada vez mais difícil assegurar a diversidade na escolha.
No Dia Mundial do Teatro não é insispensável falar da falha de objectivos em relação a actores, a projectos municipais de participação das pessoas, à ridícula existência de actividades de Teatro nas escolas como opção formativa. No seu papel para alargar horizontes ou enriquecer a personalidade e respectivas capacidades. Não é essencial.
No Dia Mundial do Teatro não é importante remontar à cultura clássica e salientar a evidência da procura do alimento espiritual para convocar a acção dos homens, desenvolver a compreensão dos valores que pela coragem e liberdade permitem atingir novas perguntas. Não é essencial focar mais uma vez essa tentativa de reencontrar um fundo espiritual. Além do mais o imediatismo mais prático não necessita destas ferramentas.
No Dia Mundial do Teatro deixemos uma só, livre e encantada palavra pela sua matéria-prima, o actor. Acima das cerimónias oficiais, a palavra, o sentido, a gratidão do sonho e do cansaço. É uma simples opinião, mas ele é, foi, talvez seja O Teatro.
Nasceu, cresceu e viveu no palco, personagens múltiplas, dádivas em pele por uma humanidade que ofereceu em sorrisos tímidos e palvras de inconformismo. Viveu o futuro, com inspiração e fez das palavras sons de emoção onde nos encontrámos com os momentos de pequenez e grandeza de que somos capazes. Apesar do tempo a sua imagem, os seus gestos, as suas palavras, o seu espírito revela-nos esse ocaso de «poeira cósmica» que parece ainda ser possível desvendar na humanidade.
Chama-se Mário Viegas e foi o actor. Abaixo um excerto de Serenidade, que ainda parece audível na gravidade doce da sua voz.
«Vem, serenidade!
Vem cobrir a longa
fadiga dos homens,
este antigo desejo de nunca ser feliz
a não ser pela dupla humanidade das bocas.
Vem serenidade!
Faz com que os beijos cheguem à altura dos ombros
e com que os lábios cheguem à altura dos beijos. (...)
Vem serenidade,
vem com a madrugada,
vem com os anjos de oiro que fugiram da Lua,
com as nuvens que proibem o céu
vem com o nevoeiro. (...)
Vem, serenidade,
não apagues ainda
a lâmpada que forra
os cantos do meu quarto,
papel com que embrulho meus rios de aventura
em que vai navegando o futuro.(...)
Ajuda-me a cumprir a missão de poeta,
a confundir, numa só e lúcida claridade,
a palavra esquecida no coração do homem.»(...)
in, Raul de Carvalho, «Serenidade És Minha»
Imagens, Teatro São João no Porto
Dia Mundial do Teatro (I)
Poema Acto III
«O actor acende a boca. Depois os cabelos.
Finge as suas caras nas poças interiores.(...)
Ninguém ama tão desalmadamemte
como o actor.
O actor acende os pés e as mãos.
Fala devagar.
Parece que se difunde aos bocados.
Bocado estrela.
Bocado janela para fora
Outro bocado gruta para dentro.
O actor toma as coisas para deitar fogo
ao pequeno talento humano.
O actor estala como sol queimado.
Sorri assim o actor contra a face de Deus.
Ornamenta Deus com simplicidades silvestres.
O actor que subtrai Deus de Deus, e
dá velocidade aos lugares aéreos.
Porque o actor é uma astronave que atravessa
a distância de Deus.
Embrulha. Desvela.
O actor diz uma palavra inaudível.
Reduz a humidade e o calor da terra
à confusão dessa palavra.
Recita o livro. Amplifica o livro.
O actor acende o livro.
Levita pelos campos como a dura água do dia.
O actor é tremendo.
Ninguém ama tão rebarbativamente como o actor.
Como a unidade do actor. (...)
Ninguém ama tão corporalmente como o actor.
Como o corpo do actor.
Porque o talento é transformação.
O actor transforma a própria acção
da transformação. (...)
Ninguém ama tão publicamente como o actor,
Como o secreto actor.
Em estado de graça. Em compacto
estado de pureza.
O actor ama em acção de estrela.
Acção de mímica.
O actor é um tenebroso recolhimento
de onde brota a pantomina.
O actor vê aparecer a manhã sobre a cama. (...)
O actor vê fulminantemente
como é puro.
Ninguém ama o teatro essencial como o actor.
Como a essência do amor do actor.
O teatro geral.
O actor em estado geral de graça.»
in, Herberto Hélder, «Poema III»
Imagem, in creazeitao07.blospot.com
(Sendo uma opção a evitar pela sua dimensão de canto único e belíssimo, optámos por seccionar algumas partes do poema, apenas pela sua extensão e pelo público diferenciado que partilha este Blogue. )
Subscrever:
Mensagens (Atom)