«Foi o meu pai quem despertou em mim o gosto pelas palavras, pela literatura, numa afectuosa partilha, por via da oralidade. Ele sabia de cor lengalengas, versos jocosos, trava-línguas e muita poesia. Aos Domingos folheava comigo os velhos calhamaços das Maravilhas da Natureza com minuciosos desenhos feitos à pena. E falava-me dos seus amigos escritores. Li um pouco de tudo, o que me chegava às mãos: os livros que havia lá por casa, os que me ofereciam nos anos e no Natal, os incontornáveis no colégio inglês que frequentei. Em criança nunca entrei numa biblioteca. Por sorte, um dos meus tios resolveu aliviar a estante, oferecendo-me os volumes das Mil e Uma Noites e a colecção completa das obras de Júlio Verne, que me fizeram viajar, alternadamente, de tapete mágico, comboio, submarino, nave espacial. Nunca mais parei...»
in «Velhos Calhamaços», Casa da Leitura