domingo, 24 de janeiro de 2010

Humanitas, Felicitas, Libertas

«Não existindo já os deuses e não existindo ainda Cristo, houve, de Cícero a Marco Aurélio, um momento único em que só existiu o homem.» (1)
O tempo está já muito distante de nós. Toda a reconstrução é de certo modo feita à imagem que dele temos, mas ainda recorrendo às formas materiais que o Alto Império deixou de uma civilização grandiosa e enigmática. Herdeiros da cultura grega, mas com um sentido mais prático da sociedade, menos dados a riscos por grandes ideais, os Romanos legaram uma civilização material riquíssima e influenciaram áreas essenciais das sociedades futuras. O Direito ou a Língua é apenas o mais visível.

Uma das suas figuras mais interessantes do Império, nasceu a 24 de Janeiro do longínquo ano de 76, ficou conhecido só por Imperador Adriano. Nasceu em Itálica (actual Espanha), sendo descendente de colonos romanos e era primo de Trajano (imperador de 98-117) que viu nele quase um filho. Desempenhou vários cargos, como governador da Síria, tribuno de várias legiões, comandaria a Minerviana (a mais gloriosa) e sucederia o seu primo no governo do Império em 117.

A importância de Adriano revela da sua noção que tinha do Império, um espaço humano que devia preocupar-se mais com o sentido da vida dos homens que o habitavam que a contínua construção de um império sem fim.Tendo aprendido com os Gregos a dimensão do homem, tentou esbater as diferenças entre os muitos ricos e os muito pobres, renunciou às contribuições das cidades para o Imperador, tentou dinamizar o cultivo das terras, ensaiou dar mais dignidade ao papel da mulher no casamento ou fez ainda a substituição, quando possível do escravo pelo colono livre.

Humanidade, Felicidade, Liberdade, símbolos de uma governação que deseja, mais do que espera a renovação do valor humano, em pontos alternativos do tempo, para a reconquista, ainda que efémera da dimensão justa do homem, «a sua intermitente imortalidade». (2)

Aqui deixamos um livro que levanta com grande sabedoria os traços de um homem, o Imperador Adriano. Escrito pela primeira mulher, (Marguerite Yourcenar) que integrou a Academia Francesa das Letras é uma lição viva do que é fazer uma biografia histórica. Um livro que durou vinte a nos a ser escrito, mas que conseguiu chegar à palavra, ao desejo, ao sentido mais íntimo de um homem. Uma obra-prima sobre a nossa dimensão no seu sentido mais global.

(1) ; (2) Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano
Imagem, Busto de Adriano, Museu Arqueológico de Atenas

Bright Star

«A Thing of beauty is a joy for ever» - John Keats
(Uma coisa bela é uma alegria eterna)

Jane Campion filmou a vida do poeta inglês John Keats e dá-nos em Bright Star uma visão inspirada da sua breve vida. Keats, um dos dos mais importantes poetas do romantismo inglês, viveu entre o fim do século XVIII e o século XIX. É também um quadro que nos dá o modo de vida e os ambientes de uma Inglaterra no tempo em que em França o vulcão da Revolução Francesa tinha trazido dúvidas e interrogações. É a história da breve vida de Keats, o empenhamento de um poeta pela escrita e pelas emoções e aquilo que o ser humano sente perante a perda. É um filme sobre a poesia. A ver numa sala próxima de si.

«(...)quando vejo na noite os astros a brilhar
- vasto e obscuro Universo, impenetrável mundo! -
quando penso que nunca hei de poder traçar
sua imagem com arte e em sentido profundo; (...)

um impulsivo amor. E a sós, me sinto à margem
do imenso mundo, e anseio imergir a alma em nada
até que a glória e o amor me dêem a hora sonhada!» (1)

(1) John Keats, «Soneto», in acqua.wordpress.com

Imagens e Projecto. Aqui.