terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Na Memória de Lennon



In My Life


«Embora saiba que nunca perderei o afecto
Por pessoas e coisas que já partiram
Sei, que hei-de parar muitas vezes para pensar nelas,
Na minha vida amar-te-ei mais


Imagine


«Imagina que não existe céu
É fácil se tu tentares.(...)


Imagina que não existem países,
Não é difícil de concretizar (...)


Nenhuma necessidade de ganância ou fome,
Uma fraternidade de homens.
Imagina todas as pessoas
compartilhando todo o mundo


Talvez digas que eu sou um sonhador
Mas não sou o único.
Espero que um dia tu te juntes a nós,
E todo o mundo viverá como um só

Imagens in, lastfm.com.br
Memorial de Strawberry Fields no Central Park


Lennon (Traços Biográficos)



«Love is the answer and you know that for sure
Love is a flower, you got to let it, you got to let it grow» 
(Lennon, Mind Games)


   Partiu há já quase trinta anos, mas permanece na memória, na própria consciência da humanidade pelo que nos deu, nos fez compreender em relação a nós próprios. Com ele a convicção de lutar por um mundo melhor, uma comunidade de homens, vivendo em paz, acima da cobiça, iluminou um caminho, mostrou a responsabilidade que cada um individualmente tem. Era um sonhador e acreditava que nos campos de strawbwerry podíamos do cimo das árvores admirar um mundo mais belo e mais justo. Chamou-se John Lennon.
  Nasceu em Liverpool, a quatro de Novembro de 1940, quando a Blitz se desmoronava  sobre a pátria de Churchill, sendo filho de uma família de classe média baixa. Quando tinha quatro anos de idade o pai abandonou a família e logo no ano seguinte passou a ser criado pela tia «Mimi». Com oitos anos vai estudar na Primary School de Liverpool, tendo um comportamento irregular. Em 1958 perde a mãe, desgosto que nunca conseguirá ultrapassar.
  A partir de 1959, a sua vida é marcada pelo brilho de uma das mais importantes bandas do século XX, os Beatles. Com Ringo, Paul e George iniciam a gravação do primeiro disco em 1962 e a partir daí conquistarão o mundo em digressões diversas. Mudarão para sempre a música popular e irão influenciar de uma forma enorme a sociedade. Alguns dos álbuns são hoje património de uma geração, mas também de um mundo contemporâneo, que após a 2ª guerra MUndial evoluiu com a sua juventude em formas novas de vida.
  Com o início da década de setenta, Lennon formará com Yoko Ono a Lennon Plastic Ono Band e irá dinamizar imensas campanhas em favor da paz no Mundo. Lutará nos tribunais com a justiça americana que o queria impedir de viver nos Estados Unidos. Retira-se em 1975 para acompanhar o crescimento do seu segundo filho, Sean Ono Lennon. A oito de Dezembro de 1980 é assassinado à porta da sua casa, quando regressava dos estúdios de gravação.
  Lennon deixou-nos um património musical imenso, intemporal, que se é o retrato de uma caminhada de uma geração, tem a universalidade de devolver a cada indivíduo a sua responsabilidade e o valor das suas acções. É possível viver num mundo melhor, respeitando a humanidade que existe em todos os seres humanos, independentemente de países, raças ou religiões. 
  A paz e o amor como formas de desenhar o mundo. É ainda uim sonho. É Verdade, mas vale a pena lutar por ele.


Imagem in, musica.uol.com.br

Memória de Florbela


Ser Poeta


Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além dor!


É ter mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter asas e garras de condor!


É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!


E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda gente!


in Florebela Espanca, Obra Poética, Presença
Imagem, in Nicoletta Cecolli, crown-on

Florbela Espanca (Traços Biográficos)


«(...) que essa coisa tão rara neste mundo - uma alma - se debruce com um pouco de piedade, um pouco de compreensão, em silêncio, sobre o que eu fui ou julguei ser. E realize o que eu não pude: conhecer-me» (1)


  Nasceu em Vila Viçosa, a oito de Dezembro de 1894, há  pouco mais de cem anos e apesar da vida curta, inquieta, deixou-nos um olhar impressivo na Literatura, mas também sobre as angústias que como mulher sentia num Portugal ainda muito marcado por uma divisão social muito forte. Florbela Espanca foi percursora do movimento feminista em Portugal, das primeiras mulheres a frequentar o ensino secundário, registando na sua poesia plena de sentidos da feminilidade. 
   A sua vida marcada por uma infância trágica, onde o pai não a reconhece como filha evoluiu sempre na procura de um afecto que lhe parece ter fugido. Apeles, o seu irmão foi um dos seus raros ombros para uma procura que terminaria tragicamente a oito de Dezembro de 1930. Viveu entre Vila Viçosa, Évora, Lisboa e Matosinhos onde terminaria a sua vida. Os abortos involuntários, a sua memória de infância deram-lhe uma angústia e uma procura que lhe fugiu entre os dedos. 
  Deixou diversos livros de poesia, entre os quais podemos destacar O Livro de Mágoas, Soror Saudade ou As Máscaras do Destino. Procurou construir sobre as palavras laços que a enlevassem de um mundo limitado, hipócrita e com pouca dignidade. Subindo acima da realidade procurou no sonho imaginar mil possiblidades para se recompensar de um mundo ideal onde não conseguia chegar. 
  A elevação acima do horizonte, a ideia de navegar por sonhos onde a rejeição que bem conhecia aí não entrassem levou à construção de um mundo, de palavras que lhe dessem uma resposta às sua inquietações. 
  A oito de Dezembro de 1930, há pouco mais de setenta anos, deixou de acreditar no papel de fuga que as palavras lhe davam e nas suas frágeis costuras. Nos anos seguintes  a sua obra seria amplamente conhecida. Cristina Silva, escreveu há anos um livro, Bela, publicado pela Ambar, que nos dá sob a forma de romance os passos de uma tragédia e de um assombro pelas palavras.

(1) Florbela Espanca, Diário do último ano
Imagem, in aguarelas.bolgs.sapo.pt

O Abandono de um País

 Para relembrar o esquecimento que todos os dias um património vivo sofre, como se não fizesse parte de uma memória colectiva, ou dela não tivesse direito ao futuro. A ideia que tem sido construída de um País nos últimos anos é a de que a distância à capital permite privilégios. Pode um País ser apenas meia dúzia de quilómetros plantados à beira-mar? Onde guardaremos a nossa individualidade, a única promessa de distinção num mundo global!
  O Público do passado quatro de Dezembro trouxe-nos o espelho deste abandono. Um momento para meditar. Para aceder ao conteúdo multimédia da autoria do jornalista Paulo Pimenta basta clicar no link abaixo.