«(...) que essa coisa tão rara neste mundo - uma alma - se debruce com um pouco de piedade, um pouco de compreensão, em silêncio, sobre o que eu fui ou julguei ser. E realize o que eu não pude: conhecer-me» (1)
Nasceu em Vila Viçosa, a oito de Dezembro de 1894, há pouco mais de cem anos e apesar da vida curta, inquieta, deixou-nos um olhar impressivo na Literatura, mas também sobre as angústias que como mulher sentia num Portugal ainda muito marcado por uma divisão social muito forte. Florbela Espanca foi percursora do movimento feminista em Portugal, das primeiras mulheres a frequentar o ensino secundário, registando na sua poesia plena de sentidos da feminilidade.
A sua vida marcada por uma infância trágica, onde o pai não a reconhece como filha evoluiu sempre na procura de um afecto que lhe parece ter fugido. Apeles, o seu irmão foi um dos seus raros ombros para uma procura que terminaria tragicamente a oito de Dezembro de 1930. Viveu entre Vila Viçosa, Évora, Lisboa e Matosinhos onde terminaria a sua vida. Os abortos involuntários, a sua memória de infância deram-lhe uma angústia e uma procura que lhe fugiu entre os dedos.
Deixou diversos livros de poesia, entre os quais podemos destacar O Livro de Mágoas, Soror Saudade ou As Máscaras do Destino. Procurou construir sobre as palavras laços que a enlevassem de um mundo limitado, hipócrita e com pouca dignidade. Subindo acima da realidade procurou no sonho imaginar mil possiblidades para se recompensar de um mundo ideal onde não conseguia chegar.
A elevação acima do horizonte, a ideia de navegar por sonhos onde a rejeição que bem conhecia aí não entrassem levou à construção de um mundo, de palavras que lhe dessem uma resposta às sua inquietações.
A oito de Dezembro de 1930, há pouco mais de setenta anos, deixou de acreditar no papel de fuga que as palavras lhe davam e nas suas frágeis costuras. Nos anos seguintes a sua obra seria amplamente conhecida. Cristina Silva, escreveu há anos um livro, Bela, publicado pela Ambar, que nos dá sob a forma de romance os passos de uma tragédia e de um assombro pelas palavras.
(1) Florbela Espanca, Diário do último ano
Imagem, in aguarelas.bolgs.sapo.pt
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