terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O escritor do mês de Janeiro - Miguel Torga

Não te sei dizer mais.
Depois de tantos versos,
Que te baste o silêncio
Dum poema ardente,
Que sempre, naturalmente,
Foi além das palavras
Do amor, amando.
Que, em cada beijo,
Selava os lábios que o namoravam.
Que aprendeu, a sofrer,
Que tudo acontecia
No acontecer.
Que, atá nas horas de evasão, sabia
Que a verdadeira vida vive-se a viver. (1)

(Dos últimos poemas de Torga, sempre a convicção do património natural do ser envolvendo os gestos mais firmes do que podemos ser. O homem que se apresentou como uma montanha no carácter, nos valores da liberdade, da imaginação dá-nos essa substância em ausentes dias de hoje, onde aquilo que seremos como Nação parece cada vez mais distante do que somos. O património, a terra, as pessoas em ausências comprometidas de vontade e de rasgo).

(1) Miguel Torga, «Bilhete», in Poesia Completa, Volume II