«(...) Onde os meus gestos são gaivotas que se perdem / Rolando sobre as ondas, sobre as nuvens.» (1)
As sociedades humanas são feitas por pessoas que apostam em nos despertar para novos caminhos, onde a beleza, a poesia e a imaginação são elementos de uma vida que se procura mais bela e livre. São estas vozes que importa destacar, muito acima da mediatização de certas figuras que inundam o espaço público de comunicação com palavras vazias, contemplando a ambição cinzenta do poder.
António Sérgio foi uma dessas vozes que procurou colorir o nosso quotidiano com sons novos, alternativos e de uma dimensão moderna. Homem da rádio, foi animador com ideias próprias de sucessivos projectos onde o som, o ritmo e as palavras foram sugeridas de um modo criativo e inteligente.
A geração que foi adolescente entre os finais da década de setenta e os anos oitenta lembrará a sua voz e os seus programas de rádio, na Comercial, na XFM e na Radar. O Som da Frente ou a Hora do Lobo apelaram a essa diferença na música e no fundo na vida. A sua voz grave e intimista convidavam-nos a habitar uma atmosfera que soube romper com o mediano gosto que em tantas estações proliferaram.
Foi nesse sentido um homem que abriu caminhos num País cinzento, ainda a romper com o fechamento de décadas. A esses tempos de memória e ao seu papel formador aqui deixamos o nosso reconhecimento. Obrigado António.
(1) Sophia in Coral, Caminho