«Entre monárquicos e republicanos, em Portugal, não há diferença de crenças. O que há é diferença de posições. Republicanos somos todos nós, mesmo os monárquicos. Se estes aceitam a monarquia, é porque a monarquia, existe, nada mais». (1)
A 31 de janeiro de 1891 eclodia no Porto uma revolta militar que procurava pela primeira vez instalar em Portugal o regime republicano. Nos finais do século XIX um conjunto de condições tinha desacreditado a monarquia e os seus governos. Além da crise económica e social, a difusão de ideias socialistas, mas acima de tudo o desenlace em relação ao Mapa Cor-de-Rosa. Pretensão de um País com um resto de Império que ainda ambicionava chegar às importante matérias-primas do continente africano. O triunfo da ideia republicana passou muito pela propagande de que só um novo regime poderia ultrapassar essa humilhação face aos ingleses, mas também as consequências que se sentiam fruto da desvalorização da moeda, da quebra dos investimentos ou das falências.
Importa destacar que o Porto era um local priveligiado, como o tinha sido durante as lutas liberais, pelas características únicas que sempre teve. Uma burguesia que ambicionava construir novos caminhos de progresso, uma ideia de cidadania e um patriotismo tão específicos. Terra de mercadores, viajantes era uma cidade que via naquela cedência uma falha e um retrocesso às lutas liberais a que tanto tinha dado.
Comemorar hoje o 31 de Janeiro deve conduzir-nos a esta ideia de generosidade e de autenticidade própria que o Porto sempre cultivou. Essa ideia de que o Porto é, desculpem-nos a audácia, sempre será, uma geografia que apenas luta consigo próprio para se afirmar diferentemente e ser aquilo que Agostinho da Silva falava com o seu brilho de sempre, «uma ilha rodeada por Portugal». Comemorar o 31 de Outubro de 1891 deve ser também uma oportunidade para avaliar melhor e clarear a luz que incide sobre este período histórico. Existem muitas certezas que não correspondem àquilo que era de facto a Monarquia e o Partido Republicano, no início do século XX. A seu tempo voltaremos a esta questão, aquando do regicídio e naturalmente da implantação definitiva em 1910.
(1) João Chagas, João Franco, «A estranha morte da monarquia Contitucional»
in, História de Portugal, José Mattoso (direc.)