terça-feira, 24 de novembro de 2009

A Rómulo de Carvalho



 A vinte e quatro de Novembro celebra-se o Dia Nacional da Cultura Científica, que é na verdade uma homanagem a uma das grandes figuras do pensamento que este País tem, os poetas nunca morrem, Rómulo de Carvalho.
 Professor de Física e Química adoptou o pseudónimo literário de António Gedeão, com o qual exprimiu a beleza das palavras com a mesma intenção comunicativa com que misturava os sais e as bases. Humanista de profissão explicou-nos o que Newton e outros já tinham ensaiado. A saber, não há nenhuma contradição entre a poesia e a ciência. Afinal não são as duas, formas diversas, mas possíveis de medir e interpretar o mundo que nos rodeia, com simplicidade e assombro? Em sua homenagem alguns excertos de um dos seus poemas, neste dia de incentivo à cultura científica.


Um Poema Para Galileu


«Estou olhando o teu retrato, meu velho pisano,
aquele teu retrato que toda a gente conhece,
em que a tua bela cabeça desabrocha e floresce
sobre um modesto cabeção de pano.
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da tua velha Florença.
(Não, não Galileu! Eu não disse Santo Ofício.
Disse Galeria dos Ofícios).
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da requintada Florença.
Lembras-te? A ponte Vecchio,a Loggia, a Piazza della Signoria.
Eu sei... Eu sei...
A margem doce do Arno às horas pardas da melancolia.
Ai que saudades, Galileu Galilei!
(...)
Eu queria agradecer-te, Galileu,
a inteligência das coisas que me deste.
Eu,
e quantos milhões de homens como eu
a quem tu esclareceste (...)
Teus olhos habituados à observação dos satélites e
das estrelas,
desceram lá das alturas
e poisaram como aves aturdidas (...)
nas faces grávidas daquelas reverendíssimas criaturas.
E tu foste dizendo a tudo que sim, que sim senhor, (...)
que o Sol era quadrado e a Lua pentagonal
e que os astros bailavam e entoavam
à meia-noite louvores à harmonia universal.
(...)
Tu é que sabias, Galileu Galilei.
Por isso eram teus olhos misericordiosos,
por isso era teu coração cheio de piedade,
piedade pelos homens que não precisam de sofrer
homens ditosos
a quem Deus dispensou de buscar a verdade.



Por isso, estoicamente,mansamente,
resististe a todas as torturas,
a todas as angústias, a todos os contratempos,
enquanto eles, do alto inacessível das suas alturas,
foram caindo,
caindo,
caindo,
caindo,
caindo sempre,
e sempre,
ininterruptamente,
na razão directa dos quadrados dos tempos.»


 António Gedeão, Obra Completa
Imagem, in pordentrodaciencia.blogspot.com