segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Ghandi (O melhor da nossa Humanidade)


«A verdade de um só homem continua a ser uma verdade a defender, uma liberdade a conquistar

Já aqui deixámos algumas palavras sobre um homem inesquecível que é difícil caracterizar e descrever em palavras, pois a sua dimensão é universal como poucos, de uma humanidade contagiante de simplicidade, luta e grandeza interiores. Justamente Mahatma Ghandi.

É sempre notável encontrar quem tentou fundar a liberdade contra a opressão, em caminhadas de lucidez, tranquilidade e luta abnegada por um ideal. Raramente encontramos o Homem, a Humanidade nessa individualidade capaz de enfrentar impérios estabelecidos derrotando-os pela demonstração da injustiça.

Ghandi conduziu uma Nação à sua Independência, mas mais do que isso transportou a consciência da Humanidade a níveis de carácter e de sobriedade que lhe deram o encanto, uma «eternidade» que sentimos perdida em tantos continentes, onde a ambição, a memória se tornaram os critérios de uma sociedade desumanizada.

Nos sessenta e dois anos do seu desaparecimento físico, Ghandi é uma das raras figuras da humanidade que nos concedeu a sorte de o conhecer em actos de imensa heroicidade que "sucessivas gerações dificilmente acreditarão que um homem de carne e osso desta dimensão alguma vez pisou esta Terra», como o disse Einstein.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Parabéns Sr. Mozart - Piano Concerto No. 21 - Andante


(No nascimento de um dos génios, que compôs em imaginação um mundo onde a beleza e o pensamento nos deram a nossa identidade humana. O que nos legou é uma composição de imortalidade que nunca saberemos agradecer na sua devida dimensão.)

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

A Memória de Tom Jobim


(No nascimento de Tom, na memória dele e das cores que nos encantaram em dias tão presentes de sol e beleza, a eterna recordação de um dos maiores criadores em língua portuguesa.)

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Em redor de Sophia



"A coisa mais antiga de que me lembro é uma tarde de Primavera em que eu talvez ainda não tivesse nascido, pelo menos não me lembro de estar ali - só me lembro da claridade difusa daquele quarto em que a Primavera entrava. Uma calma infinita poisava sobre as coisas - como se fosse o princípio do mundo e tudo estivesse ainda intocado" (1)

É sem dúvida um dos acontecimentos do ano. O espólio de Sophia será doado depois de amanhã numa cerimónia pública pela família, sendo ao mesmo tempo inaugurada a mais completa exposição já feita sobre a autora de Coral, Dual, No Tempo Dividido, O Livro Sexto ou as Histórias da Terra e do Mar entre tantas outras.

A exposição estará disponível na Biblioteca Nacional, até ao fim do mês de Abril e nela será possível descobrir manuscritos, cadernos, textos, imagens, os espaços da imaginação onde deu forma a essa construção que Sophia fez da vida e da poesia, algo que ela própria definiu como "coisa sagrada". É um olhar privilegiado a essa escrita que nos deu "a arte como espaço de atenção". (1)

Ainda nesta semana, um colóquio internacional irá reflectir sobre as temáticas que envolvem a obra de Sophia. Para conhecer os detalhes, aceder aqui.


(1) Cadernos de Sophia, Exposição da Biblioteca Nacional, (http//www.bnportugal.pt)

Memória do Imperador Adriano

"Quase todos desconhecem igualmente a sua justa liberdade e a sua verdadeira servidão. (...) O que me interessava não era uma filosofia do homem livre, mas uma técnica: queria encontrar a charneira em que a nossa vontade se articula ao destino, onde a disciplina secunda a natureza em vez de a refrear. (...) A vida era para mim como um cavalo a cujos movimentos nos unimos, mas depois de o ter ensinado o melhor possível. (...)

Porque espero pouco da condição humana, os períodos de felicidade, os progressos parciais, os esforços de recomeço e de continuidade parecem-me outros tantos prodígios que compensam quase a massa enorme dos males, dos fracassos, da incúria e do erro. (...) As palavras liberdade, humanidade, justiça reencontrarão aqui e ali o sentido que temos tentado dar-lhes". (...)

Alguns homens pensarão, trabalharão e sentirão como nós; ouso contar com esses continuadores colocados a intervalos irregulares dos séculos, com essa intermitente imortalidade."(1)


(Na substância do tempo ele é já uma memória muito distante. Vivemos num tempo que emerge um continente onde o papel das ideias não parece ser suficiente para criar uma memória digna em tantos seres. Apenas o valor utilitário parece ser credível das acções e das opções, onde a preocupação solidária se afasta na contabilidade dos orçamentos tão afastados do coração das pessoas. Adriano uma das mais nobres figuras do Império Romano, onde ainda podemos aprender o que significa o governo da cidade, como espaço de sociedade.)

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

As eleições do dia 23 de Janeiro


«A democracia procura a igualdade na liberdade, o socialismo procura a igualdade na restrição e servidão.» (1)

Dentro de dois dias realiza-se a eleição para a presidência da República. É um acontecimento importante, apenas à nossa irrelevante dimensão de País onde a dignidade das pessoas, a sua felicidade e a sua decência são um apêndice sempre à espera da lucidez ausente. A formulação das sociedades democráticas estão pensadas desde o século XVII. Continuamos, todavia a esquecer o essencial de Montesquieu, Tocqueville ou dos que nos ensinaram que sem uma comunidade de pensamento e acção, a Democracia é só uma servilidade.

Pode um país existir, quando as que se julgam elites confundem a soberania da Nação, com os jogos de oportunidade políticas, calculando apenas os ganhos e nunca a ética das atitudes, os compromissos subscritos ou os valores defendidos?

Pode um País, como conjunto activo de pessoas e instituições ser, mais do que apenas existir, como um um projecto de sociedade que concebe afirmar-se, conceder oportunidades de crescimento e felicidade aos que nele habitam?

Pode um País merecer o presente das ideias novas que o podem fazer desenvolver, quando a palavra, o contrato eleitoral é irrelevante na representatividade da comunidade? O País que se observa nos celulóides, o que existe nos écrans de flahes rápidos, nos ousados comentários dos esclarecidos comentadores deu corpo a esta formulação de uma campanha vazia de ideias, ausente de valores críticos e despida de projectos.

O governo da cidade, não é, já não é uma formulação de princípios para o bem comum. Os agentes da Pólis actuam, convergem apenas por si próprios. Há uma imensa, gritante falta de asa de voo para regular os dias com esperança e dignidade. A realidade revela nesta latitude não ter imaginação para repensar o valor dos dias. Na manhã do dia vinte e quatro de Janeiro estaremos no exacto momento que a espuma dos dias vem reforçando. Um País ausente de si próprio.

Teremos sempre a nossa individualidade, a cultura expressa nas formas artesanais do pensamento e aquela certeza de que "quando um amigo nos traz amoras bravas, os muros das casas ainda parecem brancos e afinal reparamos que também aqui, no meu País o céu é azul."(2)

(1) Alexis de Tocqueville, Da Democracia na América
(2) Eugénio de Andrade, Antologia Poética

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Memória de Paul Cezanne


(Paul Cezanne, entre os impressionistas e os cubistas, um artista que nos deu a alegria da cor, uma abordagem de perspectiva que concedeu aos objectos, à composição uma dimensão nova. O volume do tempo que nos permitia uma oportunidade de entrarmos um pouco mais, um pouco melhor nessa absorção do azul e das brincadeiras quando a eternidade parecia à conquista do olhar).

Paul Cezanne, A Forest, in http://webmuseum.com

Na Memória de Eugénio


Também o deserto vem
do mar. Não sei em que navio,
mas foi desses lugares
que chegaram ao meu jardim
as palmeiras.
Com o sol das areias
em cada folha,
na coroa o sopro
ainda húmido das estrelas

Eugénio de Andrade, "Também o Deserto", in Antologia Poética
Imagem, Mikko Lagerstedt. Quite Morning, in http://www.1x.com

(Nos oitenta e oito anos do nascimento de Eugénio, um dos poetas da palavra e da emoção de as fazer renascer em inquietas «ilhas de fraterna ternura», como o salientou António Lobo Antunes).

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O escritor do mês de Janeiro - Miguel Torga

Não te sei dizer mais.
Depois de tantos versos,
Que te baste o silêncio
Dum poema ardente,
Que sempre, naturalmente,
Foi além das palavras
Do amor, amando.
Que, em cada beijo,
Selava os lábios que o namoravam.
Que aprendeu, a sofrer,
Que tudo acontecia
No acontecer.
Que, atá nas horas de evasão, sabia
Que a verdadeira vida vive-se a viver. (1)

(Dos últimos poemas de Torga, sempre a convicção do património natural do ser envolvendo os gestos mais firmes do que podemos ser. O homem que se apresentou como uma montanha no carácter, nos valores da liberdade, da imaginação dá-nos essa substância em ausentes dias de hoje, onde aquilo que seremos como Nação parece cada vez mais distante do que somos. O património, a terra, as pessoas em ausências comprometidas de vontade e de rasgo).

(1) Miguel Torga, «Bilhete», in Poesia Completa, Volume II

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Conheço um Escritor

A Revista Visão Júnior, em parceria com o Plano Nacional de Leitura e a Rede de Bibliotecas Escolares, iniciou já este mês a promoção do concurso “Conheço um escritor”, que se encontra aberto a todos os alunos do Ensino Básico, do 1º ao 9º Anos de escolaridade.

Iniciativa de promoção da leitura, da escrita e do conhecimento de autores importantes da literatura infantil e juvenil pretende ser uma oportunidade mais para a dinamização de actividades nas Bibliotecas Escolares relacionadas com a leitura, assim como o conhecimento mais alargado de autores e suas criações.

Esta iniciativa poderá ser realizada em duas vertentes, entrevista ou reconto, dramatização, texto bibliográfico. As melhores propostas serão publicadas mensalmente no sítio da Visão e na Revista Visão Júnior. Este mês inicia-se com Álvaro Magalhães e em Fevereiro Alice Vieira será a autora em destaque.

Para mais informações, aceder aqui.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

In Memoriam - Malangatana (1936-2011)

"(...)enquanto as oleiras da aldeia, desta grande aldeia Moçambique
amassam o barro dos rios
para o pote feito ser o depositário
de todo o íntimo desse Povo que se não cala disputando
ecoosamente com os tambores do meu ontem antigo. (1)

(No esquecimento físico dos dias de um homem que deu substância à entidade de um povo, como cultura, entre as margens do rio, as cores da vida, um brilho pelos raios de sol que em momentos se instala nos sons e nas palavras. A arte e a criação de Malangatana dar-lhe-ão humildemente a extensão dos dias que agora se reduzem à memória de uma singular dimensão humana.)

(1) http://ricardoriso.blogspot.com
Imagem, in estradapoeirenta.blogspot.com

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Newsletter RBE

A RBE publicou no seu blogue a newsletter número 6, onde se destacam os aspectos mais relevantes da sua acção em nome da dignificação do papel das Bibliotecas Escolares, assim como se dão conta de projectos que procuram sensibilizar e incrementar os recursos nas Literacias. A ler aqui.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Um Novo Recomeço


Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

(Um poema deixado por uma colega, que nos quis brindar com este sinal de valor que cada um de nós pode ter nos outros e no mundo.)

Carlos Drummond de Andrade, «Receita de Ano Novo»,
in Jornal de Poesia
Imagem, Matus Hubrobsky, in http://1x.com