Quando nos aniquila o infortúnio
o que nos salva por um segundo
são as infímas aventuras
da atenção ou da memória:
o sabor de um fruto, o sabor da água,
esse rosto que um sonho nos devolve,
os primeiros jasmins de Novembro,
o anseio infinito da bússola,
um livro que julgávamos perdido,
o pulsar de um hexâmetro,
a breve chave que nos abre uma casa,
o cheiro de uma biblioteca ou do sândalo,
o nome antigo de uma rua,
as cores de um mapa,
uma etimologia imprevista,
a lisura da unha limada,
a data que prócuravamos,
contar as doze badaladas obscuras,
uma brusca dor física. (...)
Jorge Luís Borges in Obras Completas, Editorial Teorema, 1989
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