segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Cecília Meireles

Repara na canção tardia
que timidamente se eleva,
num arrulho de noite fria.

O orvalho treme sobre a treva
e o sonho da noite procura
a voz que o vento abraça e leva.

Repara a canção tardia
que oferece a um mundo desfeito
sua flor de melancolia.

É tão triste, mas tão perfeito,
o movimento em que murmura,
como o do coração no peito.

Repara na canção tardia
que por sobre o teu nome, apenas,
desenha a sua melodia.

E nessas letras tão pequenas
o universo inteiro perdura.
E o tempo suspira na altura

por eternidades serenas.


Cecília Meireles, «Serenata», in Da Viagem (1939)
Imagem, in folhademinasgerais.blogspot.com


(Será destacada como o autor do mês nas Bibliotecas do Agrupamento durante o mês de Maio. Nos cento e nove anos do seu nascimento, uma simples evocação de uma das grandes poetisas do século XX).

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