segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Ponto Final

Este espaço foi durante um ano lectivo uma plataforma digital onde se trocaram ideias, experiências, vivências e emoções. Deram-se conta de actividades, iniciativas e projectos.
Usou-se a palavra para imaginar, sonhar, transformar ideias, valores e pensamentos.

Pelos traços dos ilustradores, das cores e linhas dos alunos foram reveladas expressões e sensibilidades. Tentámos reescrever com as nossas memórias as palavras e os sonhos de poetas e criadores.

Destas linhas finais é essencial levantar da memória, os que não sobreviveram à atmosfera do tempo (Profª Ana Cristina Oliveira) e todos os que na escola dos Leões e na EB 2, 3 quiseram partilhar nos seus dias este Blogue. Apesar da diferente partilha aqui fica o nosso agradecimento.

Um agradecimento muito vivo, ainda, à funcionária da BE dos Leões, pelo seu imenso profissionalismo e dedicação. Mas também à funcionária da BE da Mem Ramires, que com uma fascinante vivacidade permitiu a realização de um trabalho muito interessante na Biblioteca.

As pessoas e a realidade das BE'S neste agrupamento mudaram de uma forma profunda. Este blogue viveu muito da cumplicidade que se estabeleceu entre os professores bilbliotecários do que era o Agrupamento Mem Ramires. Nessa cumplicidade é indispensável deixar aqui uma palavra de agradecimento ao papel desempenhado pela Profª Josefina.

Há ainda quem no furor tecnológico não compreenda que são as pessoas o que permite a transformação do quotidiano, mesmo que só levemente entre a espuma que todos os dias se envolve nos sonhos e memórias. Este blogue procurou tecer como um artesão essas linhas que nos fazem emocionar, com a perspectiva que a cotovia costuma ter do alto dos seus ramos.

A todos, obrigado por aqui terem passado. Felicidades para o novo ano lectivo que aí está e para as possibilidades que ele nos der de continuar a construir qualquer coisa de positivo com os alunos, que são também o essencial da actividade de uma Biblioteca.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Da Silly Season

A siily season deu-nos algumas novidades. Talvez seja por isso que fomos informados que centenas de escolas do 1º Ciclo foram encerradas e formaram-se alguns novos hiper agrupamentos.

Nesta dualidade de iniciativas, um objectivo único e transcendente, tornar o País num campo de oportunidades educativas, onde o sucesso estará ao alcance de todos. O fim das reprovações também anunciado é o ponto de equilíbrio que dará ao sistema educativo toda a sua amplitude de transformação.

A Ministra da Educação propõe-se escrever uma aventura onde crianças atravessarão estradas enregeladas (porventura não conhecerá a topografia de locais como Trás-os-Montes), levantando-se antes do nascer do sol e irão deitar-se muito depois do sol dormir no horizonte. Será um aventura estranha em locais, onde ainda há duas gerações se julgava que o território era um espaço de construção para todos. Do abandono dos comboios, ao fim dos rios, o encerramento de escolas representará um abandono de um mundo rural e a desvinculação a territórios culturais e de memória para futuras gerações.

Sendo necessário fechar algumas escolas, é pelo número de alunos que as frequentam, ou deveria antes ser usado o critério da observação das qualidades educativas das actividades aí desenvolvidas? Todos sabemos que existem escolas a fechar que foram premiadas pelos projectos aí desenvolvidos. A fúria tecnológica não comporta olhares objectivos e humanizados. Fala-se muito do sucesso educativo. Onde podem existir qualidades educativas, quando o sucesso, sinómimo de trabalho e de esforço, o desempenho e a persitência não são variáveis de uma equação a trabalhar, a transformar em conhecimento?

Organizado a partir de um centro cosmopolita e de vanguarda ideológica, de Lisboa para todo o País se estende uma filosofia de eduquês, que não permite a possibilidade de construir individualmente, diferentemente, com ideias próprias para comunidades culturalmente diversas.

A educação tornou-se em Portugal, um combate de pequenas disputas, onde se trocam subsídios por pessoas, nessa vã glória de que a imagem, a virtualidade nos fará saber pensar, reflectir e participar. O futuro há-de-nos garantir a construção de uma cultura, de uma sociedade onde o saber estará reduzido à minoria que acha, que existir, sem participar é um fraco e medíocre testemunho aos mais jovens

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Caminhar ... entre as estrelas

(Nas noites em que a Terra, com a sua trajectória encontra o rasto de meteoros, formados na órbita do cometa Swift-Tuttle)

Memória de um sentido de vida ... Os Bombeiros


"Josefa, 21 anos, a viver com a mãe. Estudante de Engenharia Biomédica, trabalhadora de supermercado em part-time e bombeira voluntária. Acumulava trabalhos e não cargos - e essa pode ser uma primeira explicação para a não conhecermos. 


Afinal, um jovem daqueles que frequentamos nas revistas de consultório, arranja forma de chamar os holofotes. Se é futebolista, pinta o cabelo de cores impossíveis; se é cantora, mostra o futebolista com quem namora; e se quer ser mesmo importante, é mandatário de juventude. 


Não entra é na cabeça de uma jovem dispersar-se em ninharias acumuladas: um curso no Porto, caixeirinha em Santa Maria da Feira e bombeira de Verão. Daí não a conhecermos, à Josefa. Chegava-lhe, talvez, que um colega mais experiente dissesse dela: "Ela era das poucas pessoas com que um gajo sabia que podia contar nas piores alturas." Enfim, 15 minutos de fama só se ocorresse um azar...


Aconteceu: anteontem, Josefa morreu em Monte Mêda, Gondomar, cercada das chamas dos outros que foi apagar de graça. A morte de uma jovem é sempre uma coisa tão enorme para os seus que, evidentemente, nem trato aqui. 


Interessa-me, na Josefa, relevar o que ela nos disse: que há miúdos de 21 anos que são estudantes e trabalhadores e bombeiros, sem nós sabermos. 


Como é possível, nos dias comuns e não de tragédia, não ouvirmos falar das Josefas que são o sal da nossa terra?"«


in Ferreira Fernandes, Diário de Notícias (12/08/2010)

Miguel Torga

«Sim, olhar a paisagem...
Olhá-la como um bicho
Ou como um lago.
Olhá-la neste vago
Sentimento
De pasmo e transparência.
Olhá-la na decência
Original,
Com olhos de inocência
E de cristal.»

Perco-me na paisagem,
Planáltico, também,
E, como ela, aberto aos largos horizontes.
Deambulo, parado,
A ouvir, alheado,
O silêncio das fragas
E a música do vento.
Deixo que o pensamento
Não tenha direcção
E seja apenas uma ondulação
A mais
da Natureza (...)»

«Falo da natureza.
e nas minhas palavras vou sentindo
A dureza das pedras.
A frescura das fontes,
O perfume das flores.
Digo e tenho na voz
O mistério das coisas nomeadas.
Nem preciso de as ver.
Tanto as olhei,
Interroguei,
Analisei
E referi, outrora,
Que nos próprios sinais com que as marquei,
As reconheço agora


in Miguel Torga, «Lição» , «Dispersão», «A Palavra», Poesia Completa II

(Nasceu, fez ontem, [há já alguns anos, cento e três, mais exactamente], e deu-nos na humanidade o mais intemporal da geografia, no silêncio das folhas contra o suspiro do vento nos vales, onde os homens habitaram o coração de um território, afirmando uma língua, uma identidade. Com ele, o granito, o planalto, o rio, a fraga encontrou uma humanidade mais próxima de nós. Nestes tempos em que o País pensa ser possível dispensar o território, será sempre uma voz maravilhada pelo valor imenso da terra e do solo, como forma de cultura.)