Olhá-la como um bicho
Ou como um lago.
Olhá-la neste vago
Sentimento
De pasmo e transparência.
Olhá-la na decência
Original,
Com olhos de inocência
E de cristal.»
Planáltico, também,
E, como ela, aberto aos largos horizontes.
Deambulo, parado,
A ouvir, alheado,
O silêncio das fragas
E a música do vento.
Deixo que o pensamento
Não tenha direcção
E seja apenas uma ondulação
A mais
da Natureza (...)»
«Falo da natureza.
e nas minhas palavras vou sentindo
A dureza das pedras.
A frescura das fontes,
O perfume das flores.
Digo e tenho na voz
O mistério das coisas nomeadas.
Nem preciso de as ver.
Tanto as olhei,
Interroguei,
Analisei
E referi, outrora,
Que nos próprios sinais com que as marquei,
As reconheço agora.»
in Miguel Torga, «Lição» , «Dispersão», «A Palavra», Poesia Completa II
e nas minhas palavras vou sentindo
A dureza das pedras.
A frescura das fontes,
O perfume das flores.
Digo e tenho na voz
O mistério das coisas nomeadas.
Nem preciso de as ver.
Tanto as olhei,
Interroguei,
Analisei
E referi, outrora,
Que nos próprios sinais com que as marquei,
As reconheço agora.»
in Miguel Torga, «Lição» , «Dispersão», «A Palavra», Poesia Completa II
(Nasceu, fez ontem, [há já alguns anos, cento e três, mais exactamente], e deu-nos na humanidade o mais intemporal da geografia, no silêncio das folhas contra o suspiro do vento nos vales, onde os homens habitaram o coração de um território, afirmando uma língua, uma identidade. Com ele, o granito, o planalto, o rio, a fraga encontrou uma humanidade mais próxima de nós. Nestes tempos em que o País pensa ser possível dispensar o território, será sempre uma voz maravilhada pelo valor imenso da terra e do solo, como forma de cultura.)
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