segunda-feira, 7 de junho de 2010

Um País sem História

«A iniciativa que prevê a participação de um grupo de crianças vestidas com roupas a simular as fardas da Mocidade Portuguesa, consiste num revisionismo inaceitável da História». (1)

A realidade tem trazido muitos acontecimentos que merecem comentários, análises e que se relacionam com os objectivos de literacia da informação que uma Biblioteca deve promover. As nuvens que circulam no horizonte já nos tentaram muitas vezes, mas esta é uma plataforma que se operacionaliza num espaço educativo e por isso os deixámos apenas circular sobre a nossa atenção.

Este caso é diferente. É pior. É ainda mais grave. Uma escola decidiu promover uma actividade onde visualmente, com a sua iconografia pretende trazer a História Contemporânea do Século XX ao conhecimento dos seus alunos. Um deputado da Nação, entretanto já acompanhado por outras figuras, certamente ilustres, pensam que tratar junto dos jovens um período histórico é uma vergonha nacional, uma reescrita da História.

Parece pouco, mas esta atitude enquadra uma visão da sociedade em que a História serve para realizar o combate político. Revela que para alguns que alimentam o espectro político, há a História positiva e a negativa, a que promove o progresso e a que se opõe a qualquer dinamismo, que só deve ser esquecida.

No século XX vive-se entre a generosidade Republicana e a iniquidade do Estado Novo. Os professores que promovem esta actividade sabem e certamente o explicitam aos seus alunos, aquela que foi, a natureza autoritária e refractária da liberdade do Estado Novo.

A memória compreende-se, discute-se e avalia-se pelos quotidianos que permitiu construir ou que limitou aos seus cidadãos. Um País que não sabe aceitar a evolução da sua sociedade não saberá nunca reflectir sobre os caminhos e os critérios para construir novas oportunidades.

É desolador que na Democracia ainda se observem atitudes em que se procure usar a História, sem se compreender que é discutindo, reflectindo sobre as sociedades que os mais novos poderão compreender as próprias limitações do crescimento. Do Grego, à Filosofia, à História, não é só a visão utilitária que destrói uma escola vinculada com o conhecimento. É esta pequenez que nos conduz a uma guerra com sombras que nos torna incapazes de assumir critérios de verdadeira dignidade com o presente.

(1) Pedro Soares, (deputado do Bloco de Esquerda)
citado de http://publico.pt

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