segunda-feira, 10 de maio de 2010

Memória dos Livros

«As chamas cor de laranja acenavam à multidão enquanto o papel e as letras se dissolviam no seu interior. Palavras incendiadas eram arrancadas às suas frases.

Do outro lado para lá da neblina do calor, era impossível verem-se as camisas castanhas e as suásticas a darem-se as mãos. Não se viam pessoas. Apenas fardas e símbolos.

Lá em cima os pássaros davam voltas.

Descreviam círculos, atraídos pelo brilho... até se aproximarem demasiado do calor. Ou seria dos humanos? O calor, seguramente, não era nada.» (1)

(Não foi assim há tanto tempo, em que num dos Países, expoente da civilização ocidental, se destruiram livros, como se a palavra impressa impedisse qualquer construção sólida do futuro, como se queimando um livro se apagasse a força das suas ideias, como se elas assim já não existissem. Foi em Bücherverbrennung, expoente de um ódio que se viraria para as pessoas, para a sua dignidade humana. Por mais que estudemos será sempre difícil compreender essa doença do espírito que foi o Nazismo. Poucas vezes a História e os seus processos de estudo paraceram tão incapazes de compreender a loucura como aqui).

(1) Markus Zusak, A Menina que Roubava Livros

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