«O cómico tem obrigação de ridicularizar pessoas, instituições, organismos que estão errados» (1)
O humor é a forma mais original da inteligência. Quando transporta em si os sentimentos das pessoas, aquilo que um conjunto social interioriza colectivamente, abrem-se portas de esperança e revelam-se as máscaras que insistentemente rodeiam o quotidiano. O Portugal dos anos sessenta era um território cinzento, amostra de uma pequenez intransigente.
Solnado foi para esse tempo uma marca na cultura portuguesa. A que sabia poder-se existir com ingenuidade, mas com esperança que o futuro era possível. Contribuiu para reabrir as portas fechadas do salazarismo. E fê-lo com graça, com delizadeza. Quantos terão conseguido com a sua graça fazer rir até os próprios censores. Ele foi esse mar que se quer transformar, pelo riso e pela inteligência.
As gravações da sua marcante obra estão agora a sair para o mercado. É uma oportunidade de recordar um homem imenso. Um actor que sabia ir da simples piada à genialidade, de com simplicidade revelar como o quotidiano era um aparência de felicidade e sempre com a doçura no olhar. O riso com Solnado foi uma arte séria, fresca. Foi uma acto de cultura e uma prova, podemos dizê-lo de amor pelas ideias mais nobres.
(1) Raul Solnado, Zip Zip
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