«Esta censura, estas perseguições aos espíritos livres, o incêndio de bibliotecas e a corrupção das universidades haveriam de merecer a tua indignação, mesmo que ninguém tivesse levantado a mão contra os da minha raça.
(...) Há momentos que são muito maiores do que os homens que os desencadeiam. (...) Que podes tu saber disto, tu que te limitas a ficar sentado a sonhar? Nunca viste Hitler. É uma espada desembainhada. É uma luz brilhante, mas tão ardente como o sol de um dia novo». (1)
Passam hoje sessenta e cinco anos sobre a libertação do campo de extermínio de Auschwitz pelos aliados, a vinte e sete de Janeiro de 1945. A data taz-nos à memória algo que nos coloca questões que não são do passado, mas que servem para interrogar o presente. Conseguem as sociedades, pela sua evolução criar um património cultural capaz de proteger os direitos básicos da Humanidade?
O nazismo é um fenómeno que está permanentemente sobre a interrogação dos historiadores, na medida em que ele representa a mais difícil explicação que se pode dar aos acontecimentos que decorreram entre os anos trinta e 1945. Como foi possível? Esta é a questão. Como foi possível que no País com um património cultural tão rico, que na terra de Goethe, Einstein ou Beethoven, entre tantos, fosse possível acontecer a tragédia de encaminhar para a morte tantos milhões de seres humanos? Como foi possível que o espírito humano se tivesse quebrado de forma tão radical perante uma doutrina absurda que propagava a morte?
É preciso dizê-lo. O nazismo representou no século XX, a maior regressão da História da Humanidade. Um poder absoluto feito de loucura fez da violência gratuita o emblema de um regime. Mas o regime não esteve isolado. Teve até sinais de popularidade que não são de desprezar. Encenando, protelando, o regime ganhou admiradores. E é isto que é difícl de explicar. Como acreditaram milhões de alemães no seu Fuhrer, acabando tantos dispostos a por ele morrer, por esta sinistra realidade? Evidentemente que houve opositores, mas o seu número foi insignificante. E é isto que é dificil de explicar numa sociedade com as representações culturais que a Alemanha tinha.
Evidentemente que se encontram respostas, mas elas são insuficientes e não nos explicam como se pôde organizar e sustentar esta doença do espírito que foi o Nazismo. Naturalmente, o Tratado de Versalhes, mas também a crise económica e social, a crise monetária, a propaganda, o armamento do regime. É pouco para a criação deste mal absoluto que respirava beleza no sofrimento humano.
Evidentemente que se encontram respostas, mas elas são insuficientes e não nos explicam como se pôde organizar e sustentar esta doença do espírito que foi o Nazismo. Naturalmente, o Tratado de Versalhes, mas também a crise económica e social, a crise monetária, a propaganda, o armamento do regime. É pouco para a criação deste mal absoluto que respirava beleza no sofrimento humano.
Não é fácil dizê-lo. Mas o mal pode ser servido por génios. O nazismo levanta-nos a importante questão de saber como a História se relaciona com a cultura e como esta muitas vezes é já uma expressão de ideologia ao serviço de causas destruidoras da humanidade. Nos 65 anos da libertação de Auchwitz é importante lembrar pela vítimas, pela memória, mas também para acautelar formas perigosas no futuro.
Se a História é irrepetível, as formas da sua desumanização estão ao alcance da consciência dos homens. Se há uma constante histórica, é aquela que um piloto da Luftwaffe confidenciava no fim da guerra: «As guerras podem ser causadas por indivíduos fracos ou cretinos do ponto de vista moral, mas são combatidas e suportadas por gente muito decente». (2)
(1) Katherine K.Taylor, Desconhecido nesta morada
(2) Angela Lambert, A vida perdida de Eva Braun
Imagens, in http://en.auschwitz.org
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