terça-feira, 1 de dezembro de 2009


Tenho uma cidade inteira
no livro de bolso.


Uma esquina de segredos que eram a meias
e se escapavam num rasgão,
naquele desencontro ou noutro. Tenho
uma cidade inteira no bolso e levo escondidas
no casaco noites como aquela em que à conta de
atravessarmos as árvores e arrancarmos raízes,
trocámos os cheiros da terra por histórias
que não precisam de chão. Passámos a ter janelas
para dentro
no lugar dos botões.


Tenho uma cidade de costuras
pouco urbanas,
de buracos remendados com má caligrafia. Tenho
vírgulas gastas, travessões que ninguém quer
a pontuar os encontros nas ruas, quando
destas ruas ainda se faziam margens
para nos esperarmos uns aos outros.
Tenho uma aldeia que se ergue à altura dos olhos
e contorna rotundas com alfinetes de betão.


Tenho uma cidade no bolso
de contrabando.

Minês Castanheira, Inter-cidades, Letras e Coisas
Imagem, in Pinzelladasalmón

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