«E esperou-me tanto que ainda lá está, com a mão levantada, acenando-me. Naquele Tempo, naquele lugar indefenível onde se guarda o mais profundo e, talvez, o mais inexplicável da memória.»
É de uma beleza tão simples quanto o podem ser os sonhos redigidos no imaginário das fadas, dos cisnes que voam sobre as varandas do céu, dos unicórnios que se passeiam na noite do vivido.
É um livro autobiográfico, mas é sobretudo um canto de palavras a esse território pouco definível que é a primeira infância. No cenário da guerra civil de Espanha, uma família, mas sobretudo uma criança que voando nas velas de barcos imaginários, nos contos onde escondia os seus medos e onde transfigurava os seus dias.
É um livro onde se sente como a infância é um teritório de magia, misterioso, nem sempre límpido, mas continuadamente maravilhado pelo que se vive, onde ainda as categorias racionais, as demasiadas palavras são um incómodo.
É ainda um livro que acima de um tempo histórico nos dá a dimensão humana da solidão, da tristeza, mas também da simplicidade de olhar para a luz, para o céu, para os objectos do quotidiano, com os olhos maravilhados, afinal repõe a humanidade que pertenece ao próprio homem.
É uma obra de arte porque nos transporta para um universo, um imaginário, onde pela inocência se buscam mundos novos. A sua beleza permite-nos viajar no tempo e voltar a recordar as manhãs em que os raios de sol espreguiçavam sobre a quarto, aberto à luz, entre aquelas árvores, e por onde ainda nos parece vir o cheiro de torradas e os gestos afectivos de quem nos acompanhava.
É de facto uma obra-prima. Um livro que realmente «aquece o coração» e trata as emoções com a simplicidade que só as crianças conseguem.
Um livro a descobrir, a ler e a partilhar.
Sem comentários:
Enviar um comentário