quinta-feira, 25 de novembro de 2010

No Nascimento de Eça de Queiroz

"O Partido Nacional retomaria então o poder, e Alípio Abranhos que, agora, era Governo, Influência, Força, Lei, passaria a ser o deputado loquaz de uma oposição estéril, pois que ninguém acreditava que os Reformadores - tendo subido ao poder por um acaso, vissem esse acaso repetir-se.Os Reformadores eram pois, na frase clássica,«um partido sem futuro». O próximo ministério Nacional havia de colar-se às cadeiras do poder durante anos. E poderia, durante anos, Alípio Abranhos ver as suas faculdades, o seu génio, gastarem-se na retórica hostil e rancorosa da oposição? (...)

Estas considerações pesou-as bem Alípio Abranhos nessas horas da tarde em que passeava solitário na alameda de loureiros; e quando em princípios de Novembro voltou para Lisboa, tinha decidido, no segredo da sua alma, passar-se com as suas armas de eloquência e a sua bagagem de saber para o campo do inimigo. Ia fazer-se oposição! (...)

Mas havia entre os Reformadores e os Nacionais ideais opostos? Abandonava Alípio Abranhos ideias queridas, para ir, por interesses grosseiros, defender ideias detestadas? Não. As ideias que servia entre o Reformadores ia servi-las entre os Nacionais. (...) Em política, o que eram os Reformadores? Conservadores constitucionais. E os Nacionais? Idem. (...)

Não desejavam ambos a estrita aplicação da Constituição, só da Constituição, de toda a Constituição? - Desejavam-na ambos, ardentemente. (...) Não tinham ambos um nobre rancor aos princípios revolucionários? Um rancor nobilíssimo. E em questões de Instrução, de Imprensa, de Polícia, não tinham ambos as mesmas óptimas ideias? Absolutamente as mesmas. Não eram ambos patriotas? Fanaticamente. (...)

Passou pois para a oposição o nosso grande Alípio, e com que prodigiosa impressão esse passo foi recebido no país, di-lo a História Cosntitucional".

Eça de Queiroz, O Conde D' Abranhos, págs. 299-300


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