Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento (...)
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sortida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo (...)»
(Na celebração dos oitenta anos de um grande poeta, o maior deste século ainda tão novo e já tão velho, ou a miragem de perder um pouco a beleza no esforço humano em construir "as torrentes infindáveis de rosas". Natural da Madeira, de lá nos tem enviado as palavras de uma condição humana sempre interrogada e esquecida dos holofotes onde os gestos vãos enchem a virtualidade de um quotidiano sem brilho. Aquele que faz deste País, um território de sombras, onde a sabedoria dos poetas é irrelevante.
Herberto Helder, "Sobre um Poema", in Ofício Cantante
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