É sem dúvida um dos acontecimentos editoriais do final de ano. Fragments, junta os diários pessoais, as notas, os fragmentos das ideias de uma das mulheres mais intrigantes e belas do século XX e da própria contemporaneidade. Criação de um mito durante muitas anos foi associada a uma ideia, estereotipo de um tipo de mulher que não sabia pensar, que existia formalmente na matéria. Amava diamantes, «derretia» os corações dos «gentleman», a quem seduzia com uma inocência desconcertante e animou Hollywood como poucos ícones.
Mas, Marilyn foi muito mais que isso. Tinha uma luz interior, admirava poetas tão variados como Rilke, Joyce, Withman e procurou pela literatura encontrar um sentido para a vida, resgatar pelas palavras uma qualquer ideia de felicidade. E não era a loira sem ideias que a cinematografia a associou em variadas ocasiões. Fragments devolve-nos o drama de quem tem a sensibilidade de um artista, mas sente-se incapaz de soltar a máscara e apresentar-se com as ideias que de facto tinha sobre a vida, a arte e o mundo.
A atmosfera dos seus dilemas e da personalidade são agora apresentados em Fragments. É uma oportunidade para conhecer melhor um dos ícones do século XX, cuja beleza tinha diferentes graduações e era muito mais interior do que os anos sessenta pensaram. A sua beleza, imensa e misteriosa albergava «uma alma de intelectual e de poeta» (1). Afinal a beleza, é uma construção, ou poderá ser antes uma luz interior, uma animação de alma capaz de suportar a solidão? De qual carecemos mais para resgatarmos os dias de imaginação e o bem-estar?
(1) Antonio Tabucchi, Ípsilon, http://www.publico.pt
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