domingo, 13 de junho de 2010

A Nossa Universalidade


(Já aqui falámos dele por diversas vezes. Mas é sempre insuficiente. Ele é um património muito acima do pequeno País que o viu nascer. Deu-nos a universalidade dos sonhos, das múltiplas capacidades, das contradições e limites da natureza humana. E inventou a Língua, no sentido em que deu às palavras significados próprios, de onde nasceram atmosferas desconhecidas. Nasceu há já cento e vinte e dois anos, em Lisboa e é um poeta do Mundo. Dois breves excertos da sua genialidade).

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.

Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.

Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é sombra
De árvores alheias. (...)

Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos Deuses.

Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.

Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.

Fernando Pessoa, no seu heterónimo Ricardo Reis
«Para ser Grande», «Segue o Teu Destino»

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