Hoje comemora-se o Dia Mundial da Criança. É uma data importante. Deve ser assinalada. A oportunidade do tema é por demais evidente. Num mundo em mudança a criança também tem sido alvo de transformações pelo ambiente social em mutação. O mundo contemporâneo, apesar dos seus progressos tecnológicos continua a oferecer ambientes e atmosferas preocupantes.
As dificuldades, as violações, a incompreensão e o abandono, a pobreza, a fome, a doença. Falar disto e já ficamos embaraçados pelo quadro, pelas dimensões. Mas importa falar. E não é fácil. As comemorações oficiais parecem pouco significativas. É importante que se fale sobre esse tempo, que alguém chamou um «país diferente» (1), habitado pelo mistério e pela fantasia.
A criança tem em si o melhor que a Humanidade pode usufruir. A criança nasce com a capacidade de apreciar o que a envolve e de contemplar o mundo com curiosidade. Constrói o mundo numa sequência de eternas perguntas onde reconstrói o seu tempo numa dimensão inexistente para os adultos. Olha para o mundo com curiosidade e não tem ainda a consciência do crescimento e por isso as suas respostas procuram encontrar um tempo mágico.
A criança é ainda um espaço de entusiasmo para os adultos, pois conduz-nos às nossas frágeis memórias de infância. Esta difícil viagem conduz-nos ao presente, quando olhamos para as crianças que estão perto de nós e procurarmos ter ideias sobre os que elas podem ser. E no entanto todos os dias ouvimos histórias arrepiantes com crianças. Parecem inacreditáveis. Vindas de territórios de fantasmas. Como entender e viver numa sociedade onde a rua já é um perigo, onde os desconhecidos, são mais do que não conhecidos, podendo ser concretos perigos à solta. As ameaças são muitas. As notícias comprovam-no insistentemente.
E no entanto, o conforto e a preocupação com as necessidades das crianças é ainda recente. Ela apenas existe há pouco mais de cem anos. E já perdemos esse conforto. As opções educativas de relegar o contacto directo, o espaço da brincadeira para a espaço virtual, a adopção de múltiplas linguagens, como se o Universo fosse para conquistar e não para disfrutar ameaça esta tranquilidade. Os dias carregados de tarefas, como se fossem operários do conhecimento, desde as mais tenras idades levaria qualquer bom senso a repensá-las. Mas como em muitos contextos, continua-se o que se sabe ser um desastre.
A Liteartura tem com os seus múltiplos heróis, De Peter Pan a Alice, de Tom Sawyer a Pinóquio, tentado contribuir, para que partindo de universos próprios ajude a construir espaços de imaginação que darão a novas gerações de crianças e também aos adultos uma perspectiva de crescimento, para novos tempos. Tempos, onde a fantasia, o encanto e a beleza permitam ainda acreditar que há sempre dias perfeitos. Os da infância. Certamente que eles garantirão futuros mais encantados.
(1) - Helena Vasconcelos, A Infância é Um Território Desconhecido
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