(Lembramos nos noventa e cinco do nascimento de Ruy Cinatti (feitos ontem) um poeta que trouxe as questões antropológicas ao quotidiano que o Portugal do Estado Novo não conhecia. Poeta da preocupação com o desenvolvimento sustentado e integrado das comunidades, do reconhecimento da diversidade do homem e as limitadas capacidades éticas do Poder face ao coração do homem. O poeta também da natureza, como fonte de inspiração, de um sentido humano.)
Paralelamente sigo dois caminhos
Abstracto na visão de um céu profundo.
Nem um nem outro me serve, nem aquele
Destino que se insinua
Está por descobrir. Não segue a lua
Nem o perfil da proa. Vai direito
Ao vago, incerto, misterioso
Bater das velas sinalado de oculto.
Quero-me mais dentro de mim, mais desumano
Em comunhão suprema, surto e alado
Nas aragens nocturnas que desdobram as vagas,
Chamam dorsos de peixe à tona de água
E precipitam asas na esteira da luz.
Da vida nada senão a melhoria
De um paraíso sonhado e procurado
Com ternura, coragem e espírito sereno.
Doçura luminosa de um olhar. Ameno
Brincar de almas verticais em pleno
Sol da alvorada que descerra as pálpebras.
Ruy Cinatti, «Vigília», in http://www.astormentas.com
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