quinta-feira, 18 de março de 2010

Ainda se morre nas penumbras da voz

«Nada podeis contra o amor,
contra a cor da folhagem,
contra a carícia da espuma,
contra a luz, nada podeis.

Podeis dar-nos a morte,
a mais vil, isso podeis
- e é tão pouco.» (1)

Um pobre trabalhador morreu nas prisões de Cuba. Lutava por melhores direitos, pela ausente liberdade. Foi há algumas semanas, soube-se agora. A morte de um homem é sempre uma humanidade inteira que se distancia do nosso olhar. Teria sido evitável. Pouco se fez. Nos meios de uma esquerda sempre pronta a levantar a sua indignação por tantas atrocidades da economia global, não ouvimos nada.

Os mais líricos continuam a ver na promissora Ilha do Atlântico o futuro dos dias a conquistar, sem a dignidade que se exige à aventura humana, sem o compromisso com a verdade. Não a subjectiva, mas aquela que respira o coração do homem, no contacto com a História e com o futuro.

A revolução não é esta ilusão do olhar, esta desumanidade para com os mais desfavorecidos, esta ausência de grandeza, este mundo de medo. É como o disse Sophia, o acto de construir «a partir do dia limpo, do fundamento», na procura de uma forma justa. Como longe estamos de um mundo de direitos universais.

(1) Eugénio de Andrade. «Frente a Frente».
(2) Sophia, Obra Poética III

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