quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Primeiro Dia de Aulas - Profª Margarida Rosado




   Era o meu primeiro dia da aulas!
  A minha mãe não me pôde acompanhar e o meu pai deixou-me junto do portão grande. Não pôde entrar comigo! Estava com pressa para o seu trabalho!
 A tiracolo levava uma pasta toda gira comprada na véspera, cinzenta e rosa com flores pequeninas... e no coração um nervoso miudinho!
 Quando entrei ao portão senti-me perdida! Tanto barulho, tanta correria, pais que acompanhavam os filhos e eu só!
 Encontrei umas colegas e senti-me mais amparada mas ao mesmo tempo aflita: gente, muita gente! A escola era grande, ninguém se entendia. Alguns meninos choravam e eu quase que também o fazia!   
  Tocou a campainha que mais parecia uma buzina de uma fábrica!
 Entraram de rompante pais e meninos. As Professoras já estavam lá dentro e o meu coração acelerava. O Polivalente encheu-se e eu senti o medo das «gentes». Instintivamente aconcheguei-me a uma colega, na esperança de sentir o conforto, a sua  calma e principalmente que o medo das pessoas desaparecesse. Comecei a respirar devagarinho, pois até aí eu resfolegava...
 A Directora fez a apresentação das professoras que ali trabalhavam e fez com que cada turma seguisse a sua professora até à sala onde pertenciam!
 As professoras começaram por ordem a juntar os pais e os meninos e a seguir por filas: primeiro A e lá iam para a sala com a professora à frente.
 Seguiu-se a minha vez. Eu pertencia ao primeiro B e segui a professora, tremendo nas pernas, indo atrás de mim, mais não sei quantos pais e meninos... a minha sala ainda por cima era no primeiro andar, sala dez. As pernas pareciam não querer andar, tremendo e eu sempre a respirar com mais força...
 Quando entrámos na sala sentei-me na mesa da frente e olhei para a professora! Já não era nova! Estava bem vestida e tinha um perfume bom, eu sentia-o...
 Começou a falar! Tinha uma voz sonante e forte! Olhei para trás e vi os outros meninos sentados e os pais em pé ao lado deles e eu só!  
 A professora distribuiu papéis, falou de horários, de regras a cumprir, de materiais a trazer e eu senti que havia pais que pareciam olhar desconfiados a professora. Mas ela até nem se tinha enganado em nada e de repente ouça-a dizer que já era professora há vinte e seis anos... meu Deus, pensei eu, afinal a professora até que devia ser boa professora, porque o pais dos meninos, ficaram calados e parece que acalmaram. Eu também acalmei um pouco!
 Senti que ter uma professora com tantos anos, devia ser uma coisa boa... pois já tinha ensinado muitos meninos! Deixei de respirar com tanta força e engraçado: a voz da professora baixou de tom e pareceu ser mais confiante! Comecei a gostar dela, mas ainda estava aflita com tanta gente dentro da sala dez. 
Parecia que a qualquer momento a sala se iria encolher e nós espezinharmo-nos... mas não! A sala não se mexeu... e eu sosseguei. O meu medo quase que tinha desaparecido... esperava ansiosamente pelas doze horas que era a hora que nós saíamos nesse dia...
  A professora falava, falava, falava... distribuía muita informação e eu alguma perdi-a, pois estava só! 
 Chegou o meio-dia e os pais continuavam a falar com a professora  perguntando muita coisa, até que nos mandou embora!

  De novo, com as minhas colegas saí do polivalente com tanta gente e tanto barulho e mais uma vez me senti só! É tão triste não ter pai nem mãe que nos leve à escola no primeiro dia de aulas! Só eu é que sei...


Imagem, in a outravoz.blogspot.com


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